quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

na semana passada você prometeu ficar
e eu, pela milésima última vez, acreditei
mas, logo em seguida, você fugiu
e eu, mais uma vez, prometi seguir

você partiu meu coração tantas vezes, amor
e tantas vezes o uniu, pedacinho por pedacinho

acontece que
não há cola que dure no infinito
e quiçá
amor que se reconquiste a cada minuto.

terça-feira, 13 de dezembro de 2011

eu já fui tantas que hoje nem sei
olhar no espelho me confunde mais
que ficar parada olhando pra trás
passado
passado
vida.

sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

nunca fui a escolhida.
sabe aquela hora que todos se reúnem pra escolher os jogadores dos dois times? eu ficava no banco.
sabe o Natal, quando são só dois irmãos e você ganha apenas um presente, enquanto o outro fica sem conseguir abraçar todos, de tantos que são?
eu nunca tive a sorte natural que algumas pessoas têm.
nunca fui mandada embora da escola, mas também nunca fui a escolhida da professora.
não fui a melhor nadadora.
nem me escolheram rainha de nada nas festas juninas.
tinha a beleza juvenil que passava da média, mas nunca alcançava o topo.
segui no caminho do meio.
e, diga-se de passagem, ele não foi fácil - pelo menos pra mim
segui a via mais difícil e o que parece é que, às vezes, teimo em permanecer nela
me afasto
me jogo no meu mundo e, algumas vezes, desejaria mesmo que ninguém me tirasse dele
admiro a folha seca à árvore cheia de frutos.
não, não me considero a perdedora, mas também não coleciono medalhas de honra ao mérito.
não consigo dar cambalhota e menos ainda fazer estrelinha
me tolheram ou eu me tolhi?
não me desconsidero por isso
não me julgo menos por nada
eu sou
sou aquela que já se escondeu debaixo da cama para se esconder do mundo
que passou diversas vezes por diversas águas de um mesmo rio
que chorou de alegria
e riu de raiva
e sou aquela que sabe o quanto a vida pode ser leve, mas o quanto ela é dura pra alguns
faço meus rabiscos e desenho formas amorfas, traço paralelas e, no fundo, torço pra que elas se encontrem.
há esperança na indiferença.

terça-feira, 29 de novembro de 2011

se fosse fácil não se chamaria vida.

segunda-feira, 28 de novembro de 2011

o tempo tinha gosto de ruído

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

volte, marcelo.

quando eu conheci marcelo?
era pequena, ele mais velho e lembro que chegou em casa como um furacão. aliás, ele fazia o furacão.
não éramos parecidos, mas isso não era nada comparado ao mesmo sangue que corria em nossas veias. e que ainda corre. mas marcelo se desviou. o sangue ficou impuro. e a impureza nada tem de religão ou hipocrisias jogadas ao léu.

marcelo, simplesmente, se perdeu.

e quem já não desviou o caminho e como dorothy apenas queria voltar pro melhor lugar, que é nosso lar?
o problema de marcelo, infelizmente, era exatamente esse: onde estaria seu lar?

família destruída, farpas trocadas, marcelo menino. ele não aguentou. não esperou absorver as coisas. a ferida nunca estancou, só abriu e abriu. a rebeldia chegou. a pedra veio, dominou marcelo e dominado, estancou, sem de repente algum. marcelo sucumbiu, meio morto-vivo, meio sem destino, meio torto, meio menino.

é isso, marcelo é menino. parou no tempo e do tempo se fez refém. ou da pedra. ou do tráfico. ou da vida. marcelo se fez refém da vida. e aí, companheiro, não há fraternidade que socorra ou desarme. não há lembrança terna de um passado levemente adocicado que acalme. e no caso de marcelo, o passado não foi justo.

o que teria acontecido se nada tivesse acontecido? marcelo menino teria virado homem? num canto, encolhido, entregue, imune aos sentimentos, marcelo chora? sofre? agoniza? marcelo sente? e se sente, será que pode existir esperança, aqui desse lado dos tijolos amarelos, pra viver em paz? volte, marcelo.

domingo, 13 de novembro de 2011

só queria te dizer, pra você que me lê, e eu sei que me lê: não se engane.
quem mentiu ontem, mentirá hoje, amanhã e até quando não puder mais.
se puder ficar com uma só verdade, fique com a sua... e se achar que o amor é suficiente, não, ele nunca será. a verdade sim.

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

à meia noite vi seu coração partir
e o que será que veio no lugar?

terça-feira, 1 de novembro de 2011

vem, Paris

vem
abre as manhãs
Paris chegou pra mim como num sonho

vem, coração
a vida é curta
e sol se põe ali na Sacre Coeur
é lindo de chorar

vem,
que os diálogos travados
se perdem em palavras doces
ao som das águas do Sena

vem ventar aqui na Torre

vem caminhar pelas ruas molhadas

escorregar na história

tropeçar nas pontes encadeadas

flanar pelo Lachaise

vem.

sexta-feira, 30 de setembro de 2011

qual é o peso da morte?
o que o coração guarda?
qual aflição ele esconde?
quem segura a mão que pende?
quem perde a dor que guarda?

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

dias cinzas

nos últimos dias as coisas têm ficado cinza.
eu gosto de cinza, mas algumas vezes, cinza demais parece cor nenhuma. sabe quando você não sabe? quando não enxerga? quando simplesmente não vê? é uma cortina de fumaça na sua frente. é, fumaças são cinzas.
alguns momentos da vida você gostaria que escolhessem por você. gostaria que preferissem se frango, peixe ou carne. ou se nenhum dos três. light ou normal. arroz ou macarrão. ou os dois.
escolher demais é não escolher. ficar sem escolha é um tipo de escolha. mas, sinceramente, não sei. hoje subi escadas vazadas e vi muito chão. digo, era muito mesmo. se eu caísse, morreria. e eu penso na morte a todo momento. sou curiosa. penso se terei dor, se será um acidente, se será de repente e se, de repente, muita gente vai chorar. ou ninguém. eu penso na morte e penso que morrer deve ser duro demais quando se tem muito. penso em mim sozinha e vejo que não seria assim tão doloroso deixar o mundo e penso como faria se deixasse o mundo com filhos pequenos. a visão muda. e com mais idade parece que uma hora você tem visão demais e em seguida é como se fosse cego enxergando vultos. as coisas estão cinzas mas poderiam estar pretas. e, sinceramente, se fossem brancas de que cor eu gostaria de pintar? o céu nublado sempre me deixou feliz, assim como dias chuvosos, assim como folhas secas no chão. eu nunca prestei atenção na chegada, mas sempre no caminho. nunca prestei atenção no final, mas nas entrelinhas. na verdade, eu até presto atenção no óbvio, mas gosto do que me entristece, engrandece, do que me faz sentir diferente. o que eu gostaria é que ninguém prestasse atenção em mim quando eu presto atenção nas coisas que eu sempre presto. parece perder o sentido, se desfaz, respinga em nada. ah! e como eu gostaria de passar desapercebida pelo mundo. sabe a folha seca no chão que faz um barulhinho? eu gosto desse barulhinho. se o dia estiver cinza, talvez será o dia mais feliz do meu mundo.

terça-feira, 13 de setembro de 2011

eu sou melhor sozinha

sexta-feira, 9 de setembro de 2011

simplesmente às vezes parece que não, que não se encaixa, que não foi feita pra mim. é como se tentasse colocar mais uma peça em um quebra-cabeças de 500. sou a peça 501, uma, pequena, mas que não acha seu lugar. e dói ser carta fora do baralho, dói a rejeição, a sujeição, a insignificação. me dói e da minha dor, só eu, infinitamente eu, sei.

quinta-feira, 25 de agosto de 2011

dagmar e o silêncio

naquela manhã em que o silêncio cortava por entre as árvores de manga, senti que ele podia falar mais que qualquer palavra. e deu medo. o silêncio falar? dagmar me ensinou quase tudo que podia e o que me ensinou mais, foi quando estava em silêncio. ela olhava as mangueiras, o pé de abacate, o coqueiro rasteiro, a grama, a antiga horta; na época de flor, era nas cores que dagmar perdia o silêncio dela. e ficava horas. eu observava dagmar e ela não me via. o que será que pensava? e pensava?

os homens diziam que ficar sem pensar era exercício mais difícil do que pensar em qualquer coisa, inclusive em ter que não pensar. mas dagmar sabia explorar o silêncio. eu me impressionava. garoto, queria perguntar tudo, questionar tudo, ver tudo, tocar em tudo, provar tudo, cheirar tudo, eu queria que as coisas me absorvessem e que eu fosse absorvido pelas coisas. queria ser inteirinho, inteirinho as coisas. todas elas, sem medidas. queria entender, queria gritar e dagmar, com aqueles olhinhos negros como dia sem lua, falava: pshhhh. era tão baixinho e suave que dava vontade de enlouquecer só pra ouvir o pshhhh de dagmar. eu sabia me calar, mas não sabia ser ela. e ela sabia muito bem o que era. isso me faltava. eu era incompleto. dagmar era inteira silêncio e sabedoria.

no dia em que dagmar se foi, eu pensei que podia ser ela. então tentei: sofri calado. chorei em silêncio. amargurei olhando por entre o silêncio das mangueiras. ali, debaixo daqueles pés gigantes de manga, do abacateiro, da grama, da antiga horta, eu chorei miudinho. e fazia tanto silêncio, que jurei que era isso que dagmar tinha virado: o silêncio. as folhas das árvores de manga se tocaram pelo vento e o barulhinho foi um pshhhh baixinho, baixinho. agora era fato: dagmar tinha virado silêncio e eu tinha absorvido o silêncio de dagmar. tínhamos nos absorvido.


sexta-feira, 19 de agosto de 2011

a capa.

gosto da capa. do que esconde e só eu posso ver. do anunciado mistério revolto em revolta. das pintas. das mãos, dos dedos. das três marias no ombro direito. do cabelo, solto. do cuidado. mas a capa ainda é o melhor. ou o pior. a contradição entre ódio-amor é o que me faz viva. é o que me deixa confusa e estar confusa é ter a certeza que tudo é muito estranho se as coisas vão muito bem. andar em linha reta pra quê? bom mesmo é se perder.
será que o super herói coloca a capa pra esconder o rosto? ela, a capa, é a forma de ele se livrar dos vilões cheios de super poderes sempre vencíveis? o que não é vencível quando o protagonista da história é exatamente quem está vivo por ela? é, eu gosto da capa, mas quando eu vejo o rosto, eu me sinto plena. em paz. e não há bandido que apague o herói.

quarta-feira, 17 de agosto de 2011

pássaro preto sem sorte

sou passarinho desengaiolado
e por mais que tentem me prender
que me cortem as asas
que me tirem as penas
que me deixem à míngua
sobrevivo
para que use todas as minhas forças
e transforme sua vida na prisão
que transformou a minha

qual o quê de insanidade o ser humano possui para prender um pássaro negro, que dá sorte, e, pelo mesmo fato, arrancam-lhe o de mais bonito que lhe deram: o voo. para sorte? sorte de quem?

poesia, como diz manoel, é voar fora da asa.
para o poeta é isso: não lhe tirem as metáforas. a vida. as letras. os bicos. lhe deem liberdade. com ela, ele volta. sem ela, ele morre.

sexta-feira, 12 de agosto de 2011

deixar de viver

as pessoas não procuram alguém para se completarem. elas procuram, em uma busca desesperada, por alguém que não as deixe solitárias, perdidas, confusas, tristes, sozinhas. como se, ao estar com alguém, significasse que nada disso existisse mais. ledo engano. aliás, as pessoas se enganam a todo o momento com outras. por isso a solidão é plena. é na solidão que nos conhecemos e exatamente por esse fato algumas pessoas não suportam a ideia de estarem sós. elas não querem se conhecer. não querem se olhar no espelho e apontar para elas mesmas: você é isso. o outro faz bem. o outro faz bem para o ego. estar com alguém, pode até ser amor, mas tem muito de egoísmo. engraçado, contraditório? real. é egoísmo achar que gosta, mas que gosta tanto, tanto, que faria tudo por aquela pessoa. tudo para aquela pessoa te amar? por ser contraditória, a vida não vem de viés. mas perder tanto tempo com frustrações parece que é deixar de viver.

terça-feira, 19 de julho de 2011

hoje o pássaro preto pousou na janela e não quis ir embora e eu fiquei pensando em como sou péssima pra acentuar palavras. pensei em coisas banais para não lembrar de mim. me veio as nuvens em formato de dinossauros, a poeira entrando pela porta, a solidão verdadeira. não me senti bem e nem mal, apenas me senti viva e isso era indiferente.

domingo, 17 de julho de 2011

não, não vou.

da última vez você disse que não partiria e que não me partiria.
da última vez foi a última e a primeira parecia nunca terminar. por que terminou agora?
minha cabeça confusa me diz o que não fazer, o que fazer, o que não fazer, o que deveria ser feito. eu não sei. eu olho seus olhos e parecem que os meus são cegos. eu não escrevo pra ninguém e invento mentiras. eu invento mentiras? será que realmente as mentiras não seriam verdades que esqueceram de acontecer? me dê uma luz? não, não peço nada. não quero lembrar que um dia pedi e que você simplesmente ignorou.
o teto tem o peso de carregar o que? e o solo? a luz? a flor tem aquela cor por quê? por que você partiu eu nunca vou entender. não, não vou. e não vou entender porque apareceu. não, não vou.

terça-feira, 12 de julho de 2011

não dá pra amar em cima de limitações. amor não é isso. é estar preparada pra despencar, e outro estar lá embaixo esperando.

quarta-feira, 6 de julho de 2011

me disseram que você estaria lá no final. ou no início, mas me disseram que você estaria lá. e você não estava. foi pior do que esperar no sol de meio dia a mãe que não vem. me disseram que você estaria lá, mas você não esteve e eu tive que seguir sozinha. eu tive que ser sozinha e tive que aprender a me virar. obrigada. é solitário, mas é real.

domingo, 3 de julho de 2011

um só.

-por que partir?
- e por que não?
- lembra o que aconteceu da última vez?
- sim, ficou mágoa, deixou saudade, uma parte de mim ficou pra sempre lá.
- quer isso novamente? quer se matar de saudade, é isso?
- só quero tentar.
- tentar o que?
- eu não sei, é isso que busco. estou tentando. quero cavar o que puder. achar minha casa e não sair mais dela. já foi dolorido demais sair do buraco que vim, tive que cavar, tive que tentar ser eu...
- e o que é e ser você?
- um pedaço inacabado de vida...
- e quer ser inacabado pra sempre?
- é exatamente isso, ninguém está acabado. quem está, morreu.
- e se não conseguir?
- eu tentei pelo menos. não adianta continuar, não adianta continuar fingindo que está tudo bem e que amanhã vai melhorar e, se não melhorar amanhã, depois de amanhã melhora. chega! não quero...
- e lá será diferente?
- não, a gente carrega saudade e tristeza, mas o que mais a gente carrega mesmo é a gente. nossas frustrações, medos, angústias. isso a gente carrega e é pra sempre.
- então?
- então me deixe livre pra buscar o que eu não sei o que é, mas que preciso encontrar, pra no final dizer "eu nunca vou me encontrar".
- somos um só.
- sim, consciência. somos um só e às vezes é irônico, é trágico, é cômico, mas somos um só. uma só.

terça-feira, 21 de junho de 2011

só eu sei o que é ser eu. o quanto pode ser duro e o quanto os dias pedem pra cama não me deixar saltar.

estômago

às vezes eu paro pra pensar no que restou e nem o pó tem permanecido nas frestas mais inatingíveis. não sei o que se passa. ainda há tantas fotos que poderiam ser traduzidas em momentos felizes, em risadas por nada, em vida. nós nos estragamos. nós não envelhecemos uma ao lado da outra, como havíamos prometido. lembra?
às vezes o sentimento é de dó do que nos transformamos. em estranhas. lembra daquela coisa tão nossa, de dizer, "sabe quando tudo cansa?" e eu respondia, ou você, "é, eu te entendo". era falar sem palavras. eram olhares que respondiam. não, não fui boa, não sou santa e você aguentou até onde deu. e até onde não deu também. e nem era aguentar, pra mim era amar incondicionalmente. pra onde foi tudo isso? pra onde foi tudo isso, HEIN?

perder em vida é pior que a morte. é sentimento de fracasso. é dor que não desatina sem doer. é até certo ponto entender que a vida é assim mesmo, não vem de viés. acerta em cheio a boca do estômago.

a uma ex-amiga eterna. mais uma.

segunda-feira, 20 de junho de 2011

três músicas me fazem EXTREMAMENTE feliz. quando eu morrer, quero elas no enterro:

1 - Célia Cruz - La vida es un Carnaval
2 - Creendence - Have you ever seen the rain
3 - Pearl Jam - Last Kiss


obrigada.

domingo, 12 de junho de 2011

o pior da solidão é quando ela vem acompanhada.

segunda-feira, 6 de junho de 2011

apenas me dê

chorar? o que me coube de você quando o adeus e a ausência me acompanharam?
onde pararam bethânias, chicos e frases de efeito de músicas que respondiam o que éramos nós, mas que a realidade puxou e jogou sangue e dor?
quem é você?
quem de fato era você?
eu sabia quem eu era
eu sabia o que eu era
e eu te olhava, te sentia, te via refletido, te via enlouquecido, te via amolecido, te via tão grande e tão pequeno, te via, simplesmente te via
o que eu era?
o que não éramos nós?
será que era isso?
será que não éramos?
"e eu te chamava em silêncio. na tua presença, palavras são brutas".

ainda espero cecília chegar. ainda espero pela espera de esperar.
me dê menos loucura, mas sem nada de sanidade. apenas me dê.

sábado, 4 de junho de 2011

e eu pedi

pedi que você ficasse, que você gostasse, que me tirasse pra dançar
pedi que você calasse, que emudecesse, que não fosse
pedi que você cantasse, que gritasse, que falasse não
pedi que fosse sim
pedi que talvez se fosse logo de mim
pedi que risse, que dissesse o quanto gosta, o quanto desgosta, o quanto odeia e o quanto me ama
pedi que me abraçasse, quando você se afastava e dizia "fim"
pedi, pedi, pedi
você falou que era tarde, que não tínhamos amadurecido, que queria paciência enquanto eu oferecia uma festa inteira sem hora pra acabar
você me achou estranha
eu te achei inteira
você me achou filha da puta
e eu só te achei no meio dos meus armários velhos, como um relicário que merecesse ser guardado, talvez escondido de mim mesma - sem perigo que eu quebrasse, que eu esquecesse, que eu deixasse mais do que retrô, virar vintage
e você se foi
e eu pedi, pedi, pedi
e você ficou
e eu sorri, sorri, sorri
e você brigou
e eu briguei
e fim.


*escutando 'paciência' - lenine

segunda-feira, 30 de maio de 2011

receita

me faça feliz.
vamos acordar ouvindo o barulho do mar
nada de cidade grande, uma vilinha
ponha chico, pode ter os chiados do vinil...
qualquer canção dele, mas pode colocar "eu te amo"
me receba pela manhã com pães de queijo e suco de goiaba
um café forte
uma florzinha ao lado da bandeja - qualquer flor
um bom dia
o sol
a sombra
nós

domingo, 29 de maio de 2011

o rapaz que mora sozinho e fazia comida pra um batalhão

das duas, uma: antes tentar do que se frustrar a vida inteira. e, entre a frustração de dar errado e a de nunca dar, mas sempre pensar no que poderia ter sido, ele ficaria com a primeira opção. ainda assim, deu certo. deu certo olhar pra cidade e pensar "eu consegui". deu certo respirar por meses ao lado de alguém, de compartilhar. deu certo os sanduíches trocados à beira mar. e deu tristeza quando ele partiu. como diria caio, a solidão sempre vem. e é cruel. ah! sim, é.
e foram peças... dezenas delas
foram dias quase-lindos aos lugares magníficos
foram sóis se pondo, tocando no mar
foram filmes que tocaram a alma, que quase diziam "preciso que você veja isso"
foram choros escondidos pra ninguém
foram sorrisos verdadeiros quando, por um segundo, a palavra saudade ficava ausente
foram te amos ditos pelo telefone, pelas mensagens de celular, pelos pensamentos avulsos...
foram surpresas no meio da madrugada, fazendo presença
e tem sido...
a comida que só ele sabe fazer
o caldo verde com pedacinhos de bacon
a orla esperando você chegar para ser compartilhada
a cidade gritando "volte, por favor"
"volte, que eu fiz feijão pra um batalhão inteiro..."
um batalhão chamado você.

para meu amigo, com carinho e amor.

quarta-feira, 25 de maio de 2011

às vezes, é como o vento. tão óbvio e tão impossível de tocar...de encher a mão e falar "é meu".
você e nem você, vocês nunca foram.
ninguém nunca foi.
ninguém.

nunca.

segunda-feira, 23 de maio de 2011

da próxima, quero gostar menos. deus castiga.

troca-se livros por corações. e jogam-se os dois fora.

não olhar pra trás foi a melhor coisa que fiz da última vez que te vi. ainda que não pude te tocar, não quis mais te ter. e me doeu. não olhar querendo olhar. não pegar querendo apertar. a vida não vem de viés. pega pelo meio. enche de buracos o corpo e, pelo mesmo fato, adoece a mente.
sim, fiquei doente. caí e não me levantei por semanas da cama que eu mesma me preparei.
acontece que tudo, tudo, honney, passa.
e passou.
lembra dos livros no telhado? você jogou um coração pela janela.

quinta-feira, 19 de maio de 2011

há coisas que terminam naturalmente. outras forçosamente. e há coisas que nem deviam começar.

terça-feira, 10 de maio de 2011

veja a falta de luz na janela

Você não entenderia, não entenderia se eu te dissesse tudo que tenho vivido. Não entenderia porque sempre me mato, me saboto, me destruo. Não entenderia porque sempre me machuco, literalmente, me machuco com as unhas no meio da madrugada. Lembra dos meus choros sem motivo algum? Lembra de quando não éramos nada? Lembra que não consigo me lembrar? Me bloqueei para essas coisas da vida. Gosto do gosto do sofrimento, das madrugadas silenciosas. De começar bem e terminar mal. Gosto de chegar no fundo do poço e cavar mais fundo ainda. Não é como nunca ter tido, é como se estivesse estado um dia ali e, de repente, tivesse sido roubado, amputado, perdido.

segunda-feira, 9 de maio de 2011

lo que me duele

Mientras eso, lo que queda, es todo que no era para quedar. Mientras lo que vivo, quedame lo que no era para estar vivo. Mientras siento, sufro y mientras no soy, me voy estando.Y me duele. Me escuchas? Duele...

sábado, 7 de maio de 2011

enquanto isso na lanchonete

não que fosse pra durar. mas enquanto eu pensava no próximo jogo, que logo vinha o brasileirão, que meu time tinha ido mal no regional, que dessa vez íamos dar uma lavada naqueles filhos da... mãe deles, o time dele tinha ido pra final. era o mesmo que eu pensando na próxima viagem e ele em comprar uma tv nova. e enquanto eu queria a tv nova e com cara de retrô, a dele era a em 3d - isso porque ainda não inventaram a com um número maior na frente do "d". eu pensava no casamento fracassado das primas, ele que as coisas são assim mesmo. eu pensei em que creme novo comprar pra testar no corpo, ele nem se importava com a barba crescendo, descomunal, que o deixava com uma cara de osama. eu cheguei a chorar no desenho, ele ria da tartaruga. nós ríamos da tartaruga, na verdade. mas ele não chorava no desenho. as nossas histórias se desencontravam, mas tinham se encontrado em algum ponto da vida e dado nisso: numa confusão de ocasos. e era gostoso o ocaso, os parques, os cinemas, os livros, as fotografias, as diferenças.

nos últimos tempos tenho entrado nas livrarias e sem a vontade de sair de lá. olho pras estantes e vejo tanto mundo. vejo tanta fala. vejo tanta coisa que certamente agradeceria por ter sido pensada, por ter sido criada, por ter sido imaginada, por ter sido vivida. eu te encontro nas estantes, te encontro na poeira da minha estante vazia e na vastidão de ideias nas estantes cheias das livrarias. eu te encontro de a à z. e te espero na lanchonete de sempre, pensando no casamento. enquanto você pensa no futebol...

*feita escutando "enquanto isso na lanchonete" - de hélio flanders (vanguart)

domingo, 1 de maio de 2011

cheiros e gostos

nada acontece sozinho, já percebeu? o mundo é uma avalanche. e pra quem é bom? de quem é a resposta? no fundo e no fim, nem a solidão é solitária. eu lembro da sua risada e lembro da minha. até consigo ter a mesma sensação do cabelo roçando no fim das minhas costas, mesmo não tendo mais cabelo que alcance esse lugar. consigo me lembrar daquele cheiro dos biscoitos doces caseiros da minha mãe. posso até alcançar a felicidade daquele dia que te conheci. e desde então já conheci tantas coisas e lugares e pessoas e cheiros e gostos. e nada mudou. no fundo, nada mudou.
das dores do mundo, a morte é a mais cruel. e se eu quisesse a sua risada mais gostosa e o seu jeito de dizer as coisas mais simples das maneiras mais interessantes?

sexta-feira, 29 de abril de 2011

caio fernando abreu

Sempre virá. A solidão não existe. Nem o amor. Nem o nojo. Odeio quando te enganas assim, girando entre as panelas. A vida é agora, aprende. Ainda outra vez tocarão teus seios, lamberão teus pêlos, provarão teus gostos. E outra mais, outra vez ainda. Até esqueceres faces, nomes, cheiros. Serão tantos. O pó se acumula todos os dias sobre as emoções. São inúteis os panos, vassouras, espanadores. Tenho medo de continuar. E não suportaria parar, ondas de lemanjá. Vês como evito pedir ajuda? Vieram da noite, eram muitos, assim compreendes? Talvez mais que doze, muito mais, incontáveis todos esses doze, já faz tempo. Às vezes sonho com eles. Com todos. Com quem nem conheço. Por um momento, cede. Fecha os olhos. Chafurda, chapinha. Afunda o rosto, solta a língua. Lambe os orifícios. Deixa a baba escorrer. Geme, cadela no cio. Como um macaco, acaricia teus próprios colhões. Estende tua pata peluda para o Outro, delicadamente. Cata os piolhos do Outro. Deixa que catem os teus. Esmaga entre os dentes, engole. Fala-me do gosto.

As pessoas são más. Sabendo das suas fraquezas, te acertam em cheio exatamente nelas. E te machucam, te ferem, arrancam seus cabelos fio por fio, quando podiam apenas raspá-los. É tão estranho que alguém que te conheça tão bem consiga ser tão cruel. Alguém que poderia simplesmente sua paz, faz a guerra interna exatamente em segundos.

quinta-feira, 28 de abril de 2011

ser é estar sendo

me lembro da escada e lembro do desejo arriscado pelo desconhecido, mas não rola mais. é como se desde sempre eu soubesse o que aconteceria ou que ao longo do tempo eu fosse adivinhando e o próprio tempo fosse se encarregando de me esclarecer. me canso fácil, me apego rápido, me contradigo sempre. esperneio comigo mesma, dou crises de rolar no chão pra solidão. sou fresca nos tempos vagos com meus sentimentos e abro um sorriso no meu reflexo no vidro da esquina. sou tão previsível como insuportável e às vezes dá vontade de pedir pra alma mudar do corpo. não me aguento e por que teria de aguentar o outro? não, a resposta é essa, não tenho, não teria e não terei. gosto da minha solidão e do fato de me frustrar, aliás, devo gostar, sempre me encontro nessas situações. sou paranóica, neurótica, psicótica, egocêntrica, egoísta, quase bipolar. EU SOU. se alguma que sou é estar sendo. e isso me cansa muito. muito mesmo.

segunda-feira, 18 de abril de 2011

dostoievski e julia roberts

tive que acostumar a me acostumar. não queria que as coisas tivessem sido assim. e nem sempre elas foram, confesso. a primeira vez que me deparei com a possibilidade de que fazer planos não significava, de forma alguma, vê-los se cumprirem foi tardiamente. quando era um pouco mais nova, pensava que aos 22 anos seria completamente diferente do que fui aos 22. aos 25 outro choque me fez olhar pra mim e, de frente comigo mesma, me encarando em um espelho, avistar alguém que eu não queria ser. não me arrependo de ser eu. ou melhor, não me arrependo de ser do jeito que fui, seja aos 22 ou aos 25. do que queria ter sido para o que acabei sendo existe um oceano de diferenças. e tive que aprender a navegá-lo. não é fácil. poderia ser e às vezes quando as pessoas me perguntam por quê coloco tanta dificuldade onde não existe, ah!, se eu soubesse, não as colocava. acontece que, tive que me acostumar. é como se eu quisesse uma comédia romântica pra minha vida e ela tivesse me dado a chance de escolher apenas um romance russo. me sinto tendo sido escolhida, sem modéstia (ou falsa modéstia) alguma por dostoievski ao invés da julia roberts. e qual é o mais real? o que é osso e fere? no fundo, tudo é irreal, ilusão ou vida?

terça-feira, 29 de março de 2011

me desconheço

eu já tentei me matar quando era criança. não sabia como, mas tentei.
você já parou para pensar nisso? ali, fazendo o que pensava ser chegar ao fim, aos 10 anos de idade, apaguei as luzes do quarto, deitei embaixo da cama e esperei a morte chegar com o que tinha tomado. obviamente, ela não chegou. e antes mesmo que ela tentasse me matar, a morte foi interrompida com um grito de "vem comer".
de lá pra cá, o mundo foi só um tropeço após o outro, sempre com uma vontade interminável de deitar embaixo da cama, no escuro, esperando a morte chegar.
não fui preparada pra ela, ninguém foi. e ainda que digam (e eu vivenciei isso) que no México, por exemplo, a morte é uma festa, porque a vida é uma passagem, duvido que não doa pelo menos um pingo.
conheci gente que não se importou.
conheci gente que se importou até demais.
conheci gente que quis ir junto, esquecendo que ainda estava viva.
mas não me conheço.
quando vejo o filme As Horas, meu preferido por cada detalhe daquelas três personagens que são simplesmente tão reais e se parecem sempre comigo sempre em algum ponto, eu choro. Laura Brown é isso: alguém que viveu uma vida de mentira, tentou se matar e foi a única que sobreviveu. enterrou marido, que tinha ido pra guerra, e enterrou o filho suicida e desesperado por entender uma mulher tão fechada em si como a mãe.
não, longe de mim ser Laura. não vivo de mentiras, minha vida é real e como diz o Saramago, a mim me deram um coração de verdade, que sangra. é que quando é tudo tão bom, quase perfeito, feliz e sem falsas emoções parece não ser real. sempre algo dizendo "ei, essa não sou eu". mas quem sou?
me desconheço.

quarta-feira, 23 de março de 2011

sabe quando se olha pra trás e tem exatamente a certeza que em um período da sua vida você foi extremamente feliz? pois é, eu fui. fui muito mesmo.

sexta-feira, 18 de março de 2011

eu já tomei dores demais que não eram minhas e me sinto acuada em mim hoje em dia. me sufoco entre os lençóis, me mato em cada minuto atordoado do meu tempo. sempre é um tiro, sempre é no peito, sempre em mim, sempre fatal. eu sinto a entrada dele todos os dias. e por mais que o sinta entrar, não consigo imaginar a dor que é cortar tecidos, ultrapassar peles, sufocar o coração. não lembro qual foi a última vez, todas parecem últimas e me atordoo com o fato de não focar meus pensamentos. tenho me atordoado a cada virada de esquina, me questionado pra onde o amor vai quando ele termina e fico pensando se de fato houve amor algum dia de alguém que disse que o que sentia era amor. não, não era. não sei mais. não consigo parar, sentar e imaginar um mundo rosa. não consigo acreditar que vou repassar isso pra alguém algum dia. não as aflições, mas a vida. dizer "viu, isso é o mundo". me afogo cada dia mais no meu poço. meus buracos de tristeza, de infelicidade, de perda de tempo vão ficando cada vez mais amplos, juntos, formam um vão.

entre mim e o que fui, não resta nada.