segunda-feira, 30 de agosto de 2010

meu medo me maltrata, fazendo vítima fácil das próprias armadilhas que me prego. meu medo me rasga. me chuta. me exorciza. me credita títulos que não tenho. me apunhala. me sacrifica. me faz mártir. me arrasa. meu medo me ama. e amo meu medo. meumedo. edo, meu. nosso. teu. mal... trata. bem... faça. medo. chato. cedo, cedo. ardo. fodo faço de mim meu medo e meu medo faz de mim seu tudo. faça. desfaça. refaça. medo. odem. odem. medo, edo. meu. nosso. teu. mal...trata. bem, faça, faça de mim, teu, seu, nosso. meu.

meu


meu.
o sol que sai sábio sob mim
soletra salivas
sabendo-se  rei

soluça
sabor
sem sentido nenhum

solfeja amor
rimando com o fim

o sol sabe de si
tanto quanto lá faz
do ré um dó tão grande de mim

rasteiro
restou
resquicíos
roídos

rasteiro
rumou
errante
enfim

sábado, 28 de agosto de 2010

o escuro.

- é que passou tão rápido, não acha?

- não sei, não vi quando chegou. você viu?

- senti, senti que chegou.

- quando nos perdemos um do outro?

- talvez nunca estivemos um com o outro...

- você viu o último capítulo da novela?

- ... talvez nunca

- finais felizes não me interessam

- lembra quando subimos no morro pra ver o pôr-do-sol?

- não consigo me lembrar o que de nós se perdeu no tempo...

- foi o tempo que se perdeu em nós. é como se tivéssemos subido pra ver o sol de mãos dadas e, quando o tempo escureceu, nossas mãos se perderam...

- é, foi no escuro que tudo se perdeu, inclusive nossas mãos.

- é, inclusive.

sábado, 14 de agosto de 2010

a gente vive preenchendo a vida de vazios.

procurando nas pessoas preenchimentos que não existem

e tendo frustrações que não condizem.

mesmo se eu me condenasse a não me frustar

faria isso com mais afinco ainda.


chega, Isa.

chega.

Garcez

Menino cantor
Desafogador de profundezas
Tristezas
Quem sabe, o fim
Vendedor de sonhos

No canto fechado te escuto
Suspiro saudade
Vendendo a mim

Quantos maracujás
Formam a palavra distância?

Quanto de ti a mim pertencem?
Quanto de nós no mundo fica?

Cedo, cedo
Sonho sei

E te guardo nas canções
Que você não fez pra mim

Fim.

(dedicado ao Kleuber Garcez, vendedor de sonhos e um dos melhores compositores que conheço)

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

olho-tempo

a gente entra no corredor da morte todo dia:
o primeiro é o de casa até o ônibus.
no ônibus, espremidos feito vacas de olhos esbugalhados e intensos, cheios de medo da morte, chegamos ao corredor do trabalho.
a morte vem aos poucos. e vem todos os dias, não falha.
tal qual uma pistola pneumática - a morte entra e sai, sem deixar marcas e ruídos. entontece, mas deixa que nos reviremos de cabeça para baixo. deixa que o mundo todo seja um corredor espremido e exprimindo.
nos tiram a pele
arrancam os ossos
nos dividem - para nos comer
jogam fora nossos dentes
reutilizam nossos cabelos

o mundo é um corredor
e o olhar do mundo é o olhar da vaca - é o tempo.
o tempo é o olhar do mundo.
a vaca é o olhar da morte.

terça-feira, 10 de agosto de 2010

sou pedra
que não sente
mas rola

que caça jeito
nos buracos

que afunda
e flutua na retidão imensa
do chão.

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

enquanto havia você do outro lado
que lado era eu?
era eu um lado?
era?

seu lado
na cama revirada
virada?
a vida?

vamos soletrar saudade
conjugando ausência

vamos conjugar saudade
preteriando presença

vamos,
vem
venha
vem eu
vem eu
sem tu
sem tu

vamos conjugar certeza
vamos conjugar
desconjurar
des
desmentir
mentir

joguei na saudade
ganhei pretérito mais que perfeito
perfeito
perfeito

você.

domingo, 8 de agosto de 2010

o passado fere e dói como uma cicatriz, que cura e dói
intermitente
no aconchego da manhã pulgente
na solidão do presente
na ferida do ausente

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

é a mesma canção de sempre

sim, sofro
susurro em silêncio a minha tristeza
afogo os livros
tocando o piano lentamente

a mesma canção de sempre
é a mesma canção de sempre
é a mesma
sempre
é a mesma de sempre
canção
canção
canção
cansam.

domingo, 1 de agosto de 2010

me despiu com os olhos
sem mesmo nem me olhar
e me cuspiu a verdade musicada
em dó maior

sem dó de mim

me havia pensado sem saber?

espinhos

agosto passou por nós sem que me desse conta e, no fim das contas, passou a vida sem que eu notasse o fim.
um nós torto transformado em sim
e tanto sim gasto transformado em não.
se aconteceu
o que aconteceu?

acontece que acontece
tanto quanto janeiro é sempre
começo do fim

talvez seja o fim do começo.
e setembro venha antes de abril

não sei se nasce flores de lá
mas aqui tem nascido espinhos

só espinhos.