terça-feira, 15 de dezembro de 2009

tá vendo aquele sol preto ali? eu mesma o colori.

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

bah

“Tá dificil cara. Não dá mesmo”, ele disse, xingando, como sempre, todo o tipo de gente, de putas, de velhos safados, de pessoas infelizes, de tristes e depressivos.

Eu, já sem entender desde o princípio do princípio, fui ficando cada vez mais tonta e bêbada de todas aquelas viagens dele. “Não dá mais? Não dá mesmo?”, perguntava indignada querendo saber o que diabos ele estava querendo dizer. Era cínica quando estava com raiva, e ficava pior ainda quando ela não passava de forma alguma.

Ele me bateu com as palavras, me jogou perto do vaso sujo, me fez lamentar viver.

E sabe o que mais?

Acordei.

Bukowski me saculejou no ônibus e acordei.

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

as moscas não choram...


“Aquela porta não tinha sentido”, pensou. Foi até ela. Estava aberta. Colocou a cabeça para fora. Respirou. Há quanto tempo não tinha a ideia exata do que era respirar? Quanto tempo navegara dentro de si mesmo para perder a ideia do que era pensar? Não sabia. Da mesma forma não sabia seu nome, não sabia o que ou quem era. Não sabia. Chorou. Se sentiu tão livre por poder respirar, pensar, sentir, que chorou. Profunda e amargamente chorou. Sabia que existia, mas não sabia quem era. Sabia que podia jorrar água pelos olhos. “Mas o que importa?”, falou em voz alta para si mesmo. E percebeu que falava. Mas com quem falava? Não havia se quer uma mosca para fingir que não estava louco. E se houvesse uma mosca, ele a mataria? Por que matamos as moscas se são as pessoas que tanto nos incomodam? Elas, as pessoas, sempre nos tocando, voando sob e sobre nós, pairando em nossos pensamentos, nos olhando com suas centenas de olhos que se transvestem em dois, nos perseguindo como se fossemos doces. Por que as moscas? Por que as moscas que matamos então? Não entendia, porém sentia tão profundamente sua dor que ardia em dores azedas, em sacrifícios tardios, em melancolias coloridas. Era só e adquirira tanta consciência disso que desejou nunca ter aberto aquela porta. Desejou simplesmente não parecer nada, ninguém, coisa nenhuma. Tentou entender como seria se mosca fosse. Tropeçou em seus pensamentos. A mosca, tão pequena, pensou, mas tão difícil de imaginar sê-la. “Se a mosca tivesse consciência do que é, do quanto a desprezamos, do quanto desejamos que ela simplesmente não existisse, será que ela gostaria de existir?”. Novamente chorou e quis ser mosca. Mas não era.

Secou despretensiosamente as lágrimas. Abriu a porta. Respirou. E saiu correndo. De repente percebeu que voava. Tinha virado mosca. Agora podiam mata-lo o quanto quisessem: pelo menos agora sabia quem era.

Nunca mais chorou.

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

ladrões

entraram em minha casa noite passada e levaram tudo que tinha:
o amor
o ar puro da fazenda da minha infância
aquela risada de porquinho que só eu mesma sabia dar quando ria "com o âmago", como eu mesma costumava dizer
a esperança
meus livros
a presença tão nítida de bukowski ali no canto
os passarinhos que costumavam ficar na goiabeira
minha garrafa de absinto preto 78% teor alcóolico
a minha vida

quando fui olhar o que tinha sobrado
não tinha sobrado nada
o espelho, aquele quebrado, eles também haviam levado
o que ficou? o que pude olhar? o que havia sobrado de mim?

o vidro da janela ainda refletia um pouco na luz do sol
e me vi
e... o que vi?

nada

não existia mais...

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

flor

Ela sentou desapressadamente do meu lado
Não disse palavra
Apenas nos entreolhamos
Parecíamos aborrecidas
Mas sinceramente sabíamos que não

Olhei os olhos pequenos profundamente
Um ensaio para o sorriso apareceu
E finalmente ela deixou que ele, o sorriso, desabrochasse

Não nos conhecíamos
Não nos havíamos tocado nenhuma vez
Nem visto o quanto éramos despretensiosamente flores

Chorei
Por quê?
A vista do parque era tão linda
A chuva que vinha ao longe tão calma
Nossas visões daquilo tudo tão díspares

Havia amor
E um pouco da minha solidão
E da sua alegria

Me senti viva
E acendi um cigarro

Foi como se flores brotassem...