quinta-feira, 30 de abril de 2009

um poema?

a palavra chega de repente
vem e arregaça suas mangas pro poeta
ele, inerte, aceita

não tem como fugir
e mesmo se quisesse
elas voltariam
certeza que voltariam

a palavra vem como esquizofrenia na cabeça
atordoam, atordoam
batem, batem

até fazer de uma, várias
duma frase, um poema

quarta-feira, 22 de abril de 2009

um dó?

a grama verde denuncia o dia de chuva que passou
as árvores parecem dar pequenos sorrisos de satisfação
o piano de madeira gasta já não toca
mas sua escala está lá ...
pronta pra ser dedilhada
saudade é palavra corriqueira
mas a partitura, já velha pelo tempo
parece tão estranha...
tão apagada pela memória
um dó? um fá?
uma dó?
não saberia dizer
não saberia tentar
os dias tristes voltam
e as raízes daquelas árvores sorridentes
mostram um galho tão fraco...
tão eu

sábado, 11 de abril de 2009

fios e árvores

presa no meu tempo
palavras são fios soltos

não posso voltar
talvez nunca tenha ido

ainda existem fios presos
junto de árvores soltas

até quando?

quarta-feira, 8 de abril de 2009

quebrar os concretos resolve?

quando comecei o blog não tinha ideia (que até então tinha acento) do que ele iria virar. sabia que não queria nada jornalístico e factual. mas também sabia que nada impediria que de vez em quando ele fosse assim. acho que nos textos cheios de devaneios há muito de mim. bem como nas pequenas tentativas de poesia. às vezes são um lixo. nunca tirei nada daqui e também nunca fiquei fazendo do blog meu arquivo pessoal de pensamentos e aflições cotidianas como muitos fazem. e tem gente que tem mania de seguir blogs alheios para acompanhar como se fosse um reality show, pessoas, inclusive, que devem sair por aí criticando os realitys shows televisivos. hipócritas? sei lá. cegos, talvez. o fato é que os devaneios poéticos (ou não) também são uma forma de me mostrar, de ser lida e quem me conhece geralmente sabe pra quem é o texto. diferente do jornalismo, que é escrito pra um monte ler e ter a função social e todo o blá blá blá, aqui eu posso escrever direcionada. se alguns gostam e tomam para si, óquei. a questão é... por que eu comecei a escrever isso tudo aqui mesmo?

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fim da chuva
gotas de natureza
ouvir um pingo é ter sensação de estar no mato

na cidade o concreto toma conta
aliás, pingo é ouvido porque cai no cimento
na terra seria leve e macio

chuva é melancolia
vontade de sentir terra

quebrar os concretos resolve?

domingo, 5 de abril de 2009

meu erro não é você

pensei em formas de escrever você
muito, inclusive
não consigo escrever desinteressadamente
assim, sem pensar em algo ou alguém
pessoas me chamam atenção para a sina da escrita
mas tenho dificuldades quando tento fazer você virar palavra
talvez seja pela grandiosidade de afeto
talvez pelo fato de não ter palavra que te signifique
amor é lixo perto do que você realmente é
te amo é tão ínfimo perto do que eu queria sempre dizer
mas o digo pelo fato de faltar palavras
de não saber significados que de repente dobrem, triplique, infinitem a palavra amor
e nós nos chegamos tão sem pensar
tão sem querer pensar
fomos sendo
nos tornamos
mudamos
eu com toda a agressividade que o mundo ainda pode conhecer
você com toda candura e timidez que só os que sofrem de vergonha podem saber
eu não sei
não sei o que é ser você
mas sei, e como sei, as transformações pelas quais você passou
eu as senti, as vivi, as estranhei
você renasceu algumas vezes e sei que estive presente em alguns desses partos
crescer dói
viver machuca
amar ensina
sofrer enobrece
e mesmo cantado e sendo sempre nossa trilha sonora dizer que meu erro foi crer que estar ao seu lado bastaria
é mentira
meu erro não é você
meu erro nunca será você
talvez errar seja quando não te compreendo
não tenho saco para entender que às vezes, simplesmente, não temos saco
ainda haverão de ter muitos renascimentos
dores
erros
espero estar em todos eles
e te apoiar, mas do meu jeito
grosso, estúpido, verdadeiro
amizade é pouco
amor é pouco
saudade é pouco
mas saber que você existe é muito
preenche
e traz felicidade

te amo
por falta de palavra melhor


*para monique

sexta-feira, 3 de abril de 2009

tilintar

espera noite cair
ouvir os sapos
o cheiro das flores

espero você
entrar pela noite

não tenho mais solidão
chegando tu
ela foi embora

espera aqui
vem comigo ouvir
o tilintar da vida

o mato canta
e sorriso abre por isso

sem você, seria assim?