terça-feira, 15 de dezembro de 2009

tá vendo aquele sol preto ali? eu mesma o colori.

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

bah

“Tá dificil cara. Não dá mesmo”, ele disse, xingando, como sempre, todo o tipo de gente, de putas, de velhos safados, de pessoas infelizes, de tristes e depressivos.

Eu, já sem entender desde o princípio do princípio, fui ficando cada vez mais tonta e bêbada de todas aquelas viagens dele. “Não dá mais? Não dá mesmo?”, perguntava indignada querendo saber o que diabos ele estava querendo dizer. Era cínica quando estava com raiva, e ficava pior ainda quando ela não passava de forma alguma.

Ele me bateu com as palavras, me jogou perto do vaso sujo, me fez lamentar viver.

E sabe o que mais?

Acordei.

Bukowski me saculejou no ônibus e acordei.

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

as moscas não choram...


“Aquela porta não tinha sentido”, pensou. Foi até ela. Estava aberta. Colocou a cabeça para fora. Respirou. Há quanto tempo não tinha a ideia exata do que era respirar? Quanto tempo navegara dentro de si mesmo para perder a ideia do que era pensar? Não sabia. Da mesma forma não sabia seu nome, não sabia o que ou quem era. Não sabia. Chorou. Se sentiu tão livre por poder respirar, pensar, sentir, que chorou. Profunda e amargamente chorou. Sabia que existia, mas não sabia quem era. Sabia que podia jorrar água pelos olhos. “Mas o que importa?”, falou em voz alta para si mesmo. E percebeu que falava. Mas com quem falava? Não havia se quer uma mosca para fingir que não estava louco. E se houvesse uma mosca, ele a mataria? Por que matamos as moscas se são as pessoas que tanto nos incomodam? Elas, as pessoas, sempre nos tocando, voando sob e sobre nós, pairando em nossos pensamentos, nos olhando com suas centenas de olhos que se transvestem em dois, nos perseguindo como se fossemos doces. Por que as moscas? Por que as moscas que matamos então? Não entendia, porém sentia tão profundamente sua dor que ardia em dores azedas, em sacrifícios tardios, em melancolias coloridas. Era só e adquirira tanta consciência disso que desejou nunca ter aberto aquela porta. Desejou simplesmente não parecer nada, ninguém, coisa nenhuma. Tentou entender como seria se mosca fosse. Tropeçou em seus pensamentos. A mosca, tão pequena, pensou, mas tão difícil de imaginar sê-la. “Se a mosca tivesse consciência do que é, do quanto a desprezamos, do quanto desejamos que ela simplesmente não existisse, será que ela gostaria de existir?”. Novamente chorou e quis ser mosca. Mas não era.

Secou despretensiosamente as lágrimas. Abriu a porta. Respirou. E saiu correndo. De repente percebeu que voava. Tinha virado mosca. Agora podiam mata-lo o quanto quisessem: pelo menos agora sabia quem era.

Nunca mais chorou.

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

ladrões

entraram em minha casa noite passada e levaram tudo que tinha:
o amor
o ar puro da fazenda da minha infância
aquela risada de porquinho que só eu mesma sabia dar quando ria "com o âmago", como eu mesma costumava dizer
a esperança
meus livros
a presença tão nítida de bukowski ali no canto
os passarinhos que costumavam ficar na goiabeira
minha garrafa de absinto preto 78% teor alcóolico
a minha vida

quando fui olhar o que tinha sobrado
não tinha sobrado nada
o espelho, aquele quebrado, eles também haviam levado
o que ficou? o que pude olhar? o que havia sobrado de mim?

o vidro da janela ainda refletia um pouco na luz do sol
e me vi
e... o que vi?

nada

não existia mais...

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

flor

Ela sentou desapressadamente do meu lado
Não disse palavra
Apenas nos entreolhamos
Parecíamos aborrecidas
Mas sinceramente sabíamos que não

Olhei os olhos pequenos profundamente
Um ensaio para o sorriso apareceu
E finalmente ela deixou que ele, o sorriso, desabrochasse

Não nos conhecíamos
Não nos havíamos tocado nenhuma vez
Nem visto o quanto éramos despretensiosamente flores

Chorei
Por quê?
A vista do parque era tão linda
A chuva que vinha ao longe tão calma
Nossas visões daquilo tudo tão díspares

Havia amor
E um pouco da minha solidão
E da sua alegria

Me senti viva
E acendi um cigarro

Foi como se flores brotassem...

domingo, 29 de novembro de 2009

baratas e flores

a pele
a minha
filete de pequenos pedaços, células desvairadas, borboletas no cabelo, pedaços caindo e caídos ao chão
não broto flores, Fedro
não sou a rosa
nem o clichê do espinho
sou
e me desconheço em mim
me reconheço nos outros
pequena em mim
catando as raízes que nunca serei
cheiro?
só da tristeza que insiste em reviver como baratas

mas quem disse que baratas não podem cheirar à rosas?

desde que saia uma bela borboleta amarela do meu cabelo,

tudo é possível Fedro

mesmo não sabendo quem é você

quem sou eu

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

a última valsa


o tempero desbotou a cor do vestido
e eu dancei a ultima valsa até o amanhecer
perdi os saltos – nunca soube andar com eles mesmo
e a compostura quando você me disse palavras que misturadas a outras poderiam ser doces
porém, não são
amor é bonito
falta de amor misturado é feio
ódio é horrível
nunca sentirei ódio de você é lindo
quando foi a última vez que meu rebolado me fez cair?
e quando me fez flutuar?
você vem comigo?
me acompanha aquela vida inteira?
não, sei que não
aquele fantasma do livro, o Fedro, ele sabia das coisas?
discuta comigo coisas sem importância - me mostre quanto da minha futilidade é importante para a sua inteligência
e daí
quem sabe
a última valsa seja só porque a noite acabou
e não pela falta de amor...

sexta-feira, 6 de novembro de 2009

.

atravessar a ponte não tem o mesmo sabor nem o mesmo gosto sem você. olhei pela janela e as pequenas bolinhas de água que a chuva desenha na janela denunciam o dia que eu queria que não estivesse passando do jeito que está, sem você. não, não tenho saudade das brigas e nem das aulas de histórias ou das discussõezinhas idiotas intermináveis pelo simples fato de eu gostar de azul com bolinhas rosa e você de rosa com bolinhas azuis. bolinhas. gosto de bolinhas. lembra minha mãe, lembram aquele vestido vermelho dela com grandes bolas brancas e o cintão pelo meio, perto das ancas. não, não me lembra. apenas vi em fotos e penso que vivi um tempo que a fotografia não deixa apagar. fotografia. foto - luz. grafia - desenho. tenho morrido um pouquinho cada dia toda vez que penso nas 1500 fotos, nas 1500 grafias da luz que perdi. 1500. você sabe o que significa isso pra mim? pra você? sabe o que seriam 1500 anos de história perdidos, simplesmente apagados do mapa? puf! cabum! se foi! e se tirassemos desses 1500 os 33 que jesus viveu? e mais 6 da segunda guerra? e tirassemos a voz de malinche? não sei, fato é que não foram tirados. porém, minhas fotos sim. tiradas por mim mesma de mim. por total irresponsabilidade minha?
achei no sebo "zen e a arte da manutenção de motocicletas". divino. fiz aquela janta. contei uma piada inútil. fui ao cinema. li. vi filmes. no resto os dias se arrastam. e no fim me sinto uma idiota de escrever um querido diário aos 25 anos.

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

ali no meu cantinho, não sei mais o que pensar.

nem o que viver...

robô -  andando, fazendo, comendo.

esquecendo que existem outros sentimentos...




esquecendo...

esquecida...

esquisita

terça-feira, 3 de novembro de 2009

o gosto de perfume na boca sempre me faz lembrar que da próxima vez é pra fazer bem feito...

bem feito.
bem feito.
bem feito.

a lacrainha do conhecimento.

só ela.

sábado, 31 de outubro de 2009

por pura incompetência venho sendo há 25 anos tudo que nunca quis.

parabéns.

sexta-feira, 30 de outubro de 2009

A porta...
abra - entre - fique - abrace-ME - retire-SE - esvaia-SE

ame

esqueça

ame

condene

           odeie-ME
me faça

tua

afasta-SE
cala-TE

e feche a porta ao sair

quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Ainda que a dor, presença insuportável da vida
Tenha de mim feito
Mulher que leva despedidas
Sei

Ainda que tu não
          que não me sintas
          que não me entendas
que
       simplesmente
não me queiras

Sigo

É preciso
Ainda que me pises
E que me cales
E que teu orvalho me seque
E não escutes meus gritos
Esbaforidos no vácuo inócuo

A minha loucura tão pulsante
te persegue
te encontra
te mata cada vez que te embrenhas
no mato

Não
não é o fato
simples e puro

É a doçura
lânguida e cândida
O arrasto dos dias que senti
Que talvez eram poucos e raros
quiça puros e simples
Mas, que, sobretudo

Eram talvezes...
Frieda,

Sei que as coisas por aí com Diego não andam muito bem e não queria te molestar. Porém, sua força me faz querer te escrever. Sei que não me responderás. Sei também que não me conheces. Estranho, em minha cabeça surgiu lugares que já vivi, sus callecitas, sus personas. Minha cabeça dá voltas, Frieda. Queria, se pudesse, mandá-los calar a boca. Prefiro me calar do que ter discursos de mim. O próximo passo é falar que pretende salvar o mundo e o livro preferido é Le petit prince. Não, não. Amo o principezinho. Não é...

Frieda, não quero mais meus preconceitos. Nem os modos e medos pelos quais tenho passado. O que me falta? Ontem li sua carta, traições são perdoáveis? Todas? E por que não seriam? Vivemos nos traindo, engando aos outros, não é? Diego só foi o que é.. e ser o que é dói, mas em nós que nele. Será? O amor? Cada vez mais ahco que é apenas uma invenção.

terça-feira, 27 de outubro de 2009

darwin

tenho inventado tantas mentiras que as verdades já nem acreditam mais em si mesmas. acordo com a ideia de que esse não deveria ser o dia que começa, se não aquele que já devia ter terminado. no meio do muro, os dois lados já me cansaram. sempre com confusões, retaliações, aparições, chateações, confissões...amores. as pessoas têm o simples dom de serem um saco. não entendo como podem estudar tanto ou não, mas ainda assim sofrerem, viverem, se amargurarem, sofrerem e... ainda assim, serem um saco. e elas estão em todos os cantos. no ônibus ao te empurrarem, no elevador ao colocar triplicadamente aquele perfume insuportavelmente forte, no seu coração ao deixar melancolias e em sua cabeça ao deixar frustrações.
15 minutos.
20.
10 anos.
quanto tempo estamos aqui mesmo errando?
darwin nunca usou a palavra e-vo-lu-ção e sim adaptação...

sim, nos adaptamos cada vez mais a errar.

domingo, 25 de outubro de 2009

percepções...

não tenho mais o que fazer. dói.
está corroendo. o vizinho com suas canções sofridas me machuca. você não ligar me machuca. e me ligar me machuca ainda mais. o ventilador não funcionar me enraivece. e dois ventiladores funcionando me fazem perguntar se deus existe e o que ele é. o doritos remexido me embrulha o estômago. raul tocando alto em outro vizinho e falando de casamento inútil me lembrou o som do vinil e minha infância. passou um carro, que carro será que seria amor? você adivinharia comigo? não, que pergunta inútil. rauuuuul? por que ainda tocas? cala a boca! a vida na cidade me enloqueceu. meus remédios já não fazem efeito, os delírios cotidianos de bukowski não mexem tanto comigo como os meus próprios...está tudo aberto, aquela ferida na moto de semana passada na perna esquerda está aí... exposta... tudo detalhadamente doído...e jogado.
os óculos
as chaves
a caneca com uma colher dentro
um par de brincos
dez reais
anna akhmátova
machado de assis
peru
austrália
natal
fortaleza
rio de janeiro
são paulo
... tantos lugares em uma só estante.
me dá medo.
já estive em todos? por que não me lembro? é melhor esquecer ou simplesmente guardar em uma caixa de pandora junto com a esperança?

o vizinho se calou.
aproveitarei o silêncio dele...

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

águas

não me deu saudade de nada e nem de niguém. mirei pela janela azul as construções sendo levantadas, sinal da porra do progresso, rá... progresso, quero ele longe se junto vem o caos, o calor, o aperto.
não sei o que acontece, falta de sentimentos também traz felicidade.
não tenho saudade daquele passado fingido
daquelas sorrisos forçados forjados de amor
e passado, digo, muito passado mesmo
bem passado
lá longe
e talvez aqui perto
não quero beber novamente em fontes velhas
não as desprezo
porém
ainda que haja poucas
que conhecer novas águas
e que venha junto correntezas, com a certeza da calmaria do rio logo abaixo.

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

já quis nascer pra passarinho
igual manoel
já quis vir da literatura suja
como o velho safado
e já quis não querer nada
como pessoa
mas sou eu
tão mim
que é rídiculo me apegar aos outros
pra fingir ser quem não sou
ou me esconder de quem não fui
sou
tanto quanto eles são
me escondo
tanto quanto eles não
acordo
tanto quanto eles sim
sim se afundam
se dormem
se afogam
se afundam
se
s
e

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

cegueira

Brinquei com a morte hoje
E ceguei-lhe os dois olhos
Depois disso
Dei pra ser feliz

Faltava cegueira à vida

sábado, 10 de outubro de 2009

mar

Naveguei em suas ondas
Passeie em seus navios
Descobri os mares em você

Fui fundo
Mergulhei
Afoguei pra aprender

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

sem raízes

o silêncio incrustou os dedos em minhas raízes como se não houvesse nada mais normal que não sair do lugar.

tentei escapar?

não, deixe-me ali por anos

até que, não aguentando mais, foram as raízes que me deixaram...

sexta-feira, 25 de setembro de 2009

meu bukowski

eu andei me perdendo de você velho safado
me afastei das coisas que mais gosto por coisas que tenho que fazer
andei fazendo o que mandam
sendo quem não sou
sim, eu digo
as dores de cabeça ainda estão aí
bem como as contas no fim do mês
e os livros empoeirados
os seus estão lá
mas aquele rosa choque não te deixa empoeirar
aquela capa "leia-me" não me deixa te esquecer
volto
assim como voltarei sempre que me perder de você
senhor charles bukowski

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

tu

tu
que hora sim e hora não vens a me buscar
que me reconhece no meu desreconhecimento
que tem de mim tudo
que leva de mim nada
tu
tudo
todos
nós

tu que faz as obsessões em forma de céu
que faz de árvores secas a paisagem mais bela
vês?
de árvores secas, mortas quiçá, a paisagem mais bela
sim, tu
ainda hei de conhecer-te

seja nas horas sim ou nas horas não

e aí sim
tu seremos nós
e nós veremos além...

terça-feira, 8 de setembro de 2009

"por Deus nunca mi vi tão só
é a própria fé o que destrói
estes são dias desleais"



usando o alheio
Às vezes não tenho vontade nenhuma de fazer alguma coisa. Ficar quieta, tentar pensar em nada, me calar.
Quando até rir com os amigos perde a graça, acho que é hora de realmente me fechar em mim.
Não é só tristeza
Nem melancolia
Nem saudade...

A falta de definição é que me mata. Mas ainda assim talvez defina: tudo passa? quando passa? o que permanece? o que mata? o que alegra?

Estou cansada de ouvir coisas que não sou, formas que me veem, jeitos que me dão.

Não, sou meus livros, meus filmes, meus amigos, meus pensamentos. Mas não sou só meus livros, só meus filmes, só meus amigos, só meus pensamentos. Ainda há muito e tem tão pouco...

sábado, 5 de setembro de 2009

confesso, tem sido dificil ser eu. tem sido muito.
olhar e perceber simplesmente que não há, não é, acabou, dói.
andando pelo asfalto já fresco do dia o cantor que outro dia escrevia, sim, naqueles dias que escrevia por amor, por querer, por vontade e prazer, me encontrou na esquina e sussurou um MUITO OBRIGADO. eu chorei... caminhei até meu rumo e chorei. chorei no caminho. chorei na chegada. não sei até que ponto é bom ouvir um elogio sussurrado, uma palavra que poderia trazer tanta felicidade trazer tanto desgosto por ser quem sou.
não escolhi.
sempre confessando confesso que tento ser outras. ler, conhecer, conversar para que, quem sabe, me perca de mim e seja outra...além dos desejos, daquela coisa de acordar e me perguntar "quem sou eu", que seja outra....
outra que não sofre com um rompimento, outra que não sofre com uma despedida, outra que não sofre com o reatar de um laço perdido num tempo passado.

sofro, ainda que me queiras e me queira bem, ainda assim, por ter em mim tanto de mim, sofro.

e passa.

mas tudo reacende na mesma velocidade e proporção que gostaria.

não fui feita de felicidades, mas sim de tombos.

e de tombos e tombos aprendi: caio, mas sempre caio pra em seguida cair...

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

é quando eu fico mais quietinha, autista no meu mundo ordinário, que consigo atingir o pior dos sentimentos.

dor.

finda quando?

J. Tomaz

me peguei escutando ney e lembrei de você. confesso, chorei.
limpando minha estante constantemente empoeirada, cheia de livros que nunca li. e, outra vez confesso, que nunca lerei, vi que escorreu algumas coisas chamadas lágrimas de mim.
sempre achei que meu quarto fosse o retrato da minha vida. e ele está sempre tão desarrumado. coisas que não deveriam estar onde estão. e coisas que nem dele fazem parte, e nunca farão.

você fará falta.

me corta o peito, me dói a alma. a saudade me cativa a cada segundo quando leva quem eu amo pra longe.
mas eu te entendo, te respeito e te admiro.
não sei se foram aquelas conversas sobre assuntos afins que tivemos desde o começo do nosso encontro. não sei se nossas brigas tão enraivecidas como a de dois irmãos. não sei se simplesmente o fato de te amar pelo fato de você exatamente não cobrar amor. não sei, simples e de forma doída, não sei.

ney tocando e meus livros sempre fechados me fazem lembrar que a bagunça do meu quarto sempre continuará...
e nessa bagunça que te encontrei e que você sempre permancerá.
você, que sempre disse e em brigas afirmou minha bipolaridade, confesso: sim, sou bipolar.

porém, meus dois lados te amam.

e muito. boa viagem, bons caminhos.

só falo eu te amo por não existir palavra maior que amor para definir o amor.

então, que seja amor. e hoje é um amor com muita dor, com a dor da saudade e a necessidade de um abraço.

__________________

para o Tomaz, com amor e briga.

quinta-feira, 27 de agosto de 2009

hora, tempo, céu, árvores - obsessões

Perdi as horas. E, mais que elas, o tempo.

Me perdi de quem sou. E tudo que sou refletia no que era você.

Não se falava em mim havia tempo. Tempo, o perdido.

Não se falava nada além do que falava você.

Não sei porque falava amor. Para nós - nós palavra que alcançava uma definição do que eu era, sim, porque eu era só se fosse você junto, e eu, diga-se de passagem, em menores proporções - para nós amor era definição de pessoa. Eu te chamava amor, você me chamava amor. Amor nunca descobrimos o que fosse, o que era, o que deveria ser. Era amor como se fosse Ana, Maria, João.

Você e nós. Nós e sua vida. Você e outras. E engraçado, eu = primeira pessoa do singular. Singular, coisa que nunca fui. Macabéa me entenderia. Mas nem a morte me traria minha hora da estrela.

Você foi embora ou eu virei eu e fui? Eu não me lembro. Agora existem horas, existe o tempo. E tudo existe, o eu, o tempo, as horas porque você e nós foi embora. Olhei para aquelas minhas obsessões, que de tão minhas ficaram sem mim quando o nós existiu, e vi que as árvores continuam secas, algumas floridas e cheias de verde é fato, mas percebi que continuam secas. O céu ainda que catastrófico anunciando vez ou outra acabar com o mundo lá está. E céu e árvores secas formam obsessões. A cadeira de balanço continua lá. As minhas dores escondidas quando você existia e eu as escondia, continuam lá. Mas hoje reclamar das minhas dores traz alegria. Alegria de saber que posso simplesmente reclamar pra mim mesma de dores.

Não ligo que você foi embora. As lágrimas são minhas. Sim, eu existo, eu choro, eu sofro.

E por ser eu, eu também escolho se choro, se sofro, se existo. E digo.

Nunca fui tão eu, nunca fui tão céu e árvores secas como agora, depois de você e nós partir.

_____________________________________________

“este texto aqui escrito trata-se de um meme proposto por Iuri Gomes e que me chegou pelo Umbigo de Cristo. a proposta é que os indicados façam um texto (ou o que der na telha) como se rompesse com alguém. a ideia foi inspirada na exposição Cuide de Você, da francesa Sophie Calle, que convidou 104 mulheres para interpretarem um email de seu ex-namorado que gostaria de romper o relacionamento de ambos”

Regras do meme:

1 – Escrever uma carta como se você estivesse rompendo com seu (sua) namorado (a);

2 – Escrever estas regras e uma breve explicação do que é o meme (como essa aí de cima)

3 – Indicar cinco pessoas.



Escolhidos: Elton,, Renatim, Laíse e Talita.

terça-feira, 25 de agosto de 2009

a chuva sempre traz aquilo que sempre escrevo

não adianta, o cinza é tão bonito algumas vezes que dá vontade de abraçá-lo

quinta-feira, 30 de julho de 2009

o vento riu no meu rosto.
ri de volta
risada de vento não se nega
abri os braços
ele me abraçou

o vento é foda
"um bom poeta pode fazer uma alma despedaçada voar."

bukowski


nem você velho safado, nem você.

quarta-feira, 29 de julho de 2009

Não consigo fingir sentimento
sofrimento
amargura
tristeza
nem com os remédios
mato os leões
-os infernos
nem com a doença
dá pra fingir
-esquecimento
doendo a dor da cabeça
penso esquecer as outras
autoengano
coração não se cura com remédio de infarto
-fato.

terça-feira, 28 de julho de 2009

abri a janela e tudo era escuro
abri outra, e nada
abri a porta
dava pro vazio
gritei e não saía voz
tocava nas coisas
e sentia que elas não existiam
olhava no espelho
não aparecia meu rosto
queria que fosse um sonho...
mas não era
era só como meus sentimentos se sentiam

e, na verdade
não era um "só" como se sentiam

qual o contrário de só?
ando tão distraída que confundo morte e vida...

sábado, 25 de julho de 2009

antes pensava que não pertencia àquelas pessoas

hoje penso que não pertenço é a mim mesma

é doloroso

quero esquecer mais ainda dos esquecimentos cotidianos

fora do ninho
fora do ninho
fora do ninho

o novelo de lã denuncia: a loucura só abstém aqueles que não estão preparados

quarta-feira, 22 de julho de 2009

señor elton rivas y doña america del sur

hoje fiquei lendo todos os textos no blog do Elton a respeito da viagem dele pela Bolívia e Argentina.

ri demais.

e, por outro lado, me lembrei muito também de quando morei um ano no México. as crianças vindo em grupos oferecendo tantas coisas que o ouvido não acompanhava o ritmo daquele espanhol rapidito. quando viajei por 15 dias pela "Ruta Maya" (rota maia), que no meu caso foi até a fronteira com a Guatemala, me lembro do ônibus ser revistado até o último buraco quando entramos no estado de Chiapas (o mais lindo e também um dos mais pobres do país)...

lembro ainda do guia falando "não fotografem, não peguem NA-DA que as crianças ofereçam, se não serão obrigados a comprar". a cidade, san juan chamula, é um povoadinho próximo de san cristóbal de las casas. apesar de ter ido há 9 anos, nunca me esqueci da igrejinha em chamula.... uma mistura do catolicismo dos espanhóis com o que os índios de lá acreditam...sem cadeiras, a igreja tem as paredes pretas de velas queimadas, a cada passo, uma nova surpresa... as indias ficam rodeadas por velas e com galinhas pretas dentro de sacolas de plástico - galinhas vivas, definhando. ah, se eu pudesse fotografar...

me dá saudade do méxico. mas mais ainda vontade de viajar por aqui...

tenho que aproveitar a música do belchior...

"tenho 25 anos de sonhos, de sangue e de América do Sul, por força desse destino um tango argentino me cai bem melhor que um blues..."

segunda-feira, 20 de julho de 2009

passar

um barquinho no meio do mar
afundando
afundando
afundando

enquanto tantos outros seguem
navegando
conhecendo
ampliando a visão
alcançando o horizonte

é assim que me sinto

um barquinho no meio do nada
parada
vendo os outros passarem...

terça-feira, 14 de julho de 2009

banzo

o dia amanheceu
e não teve nada tão clichê
como acordar pra ver outro dia igual a tantos outros

é pena
ter que acordar fingindo surpresa
enquanto tudo permanece igual

tirando aquele banzo
tudo é igual

até o banzo

quinta-feira, 9 de julho de 2009

voar
perder-se

ah!

quarta-feira, 8 de julho de 2009

escrever ainda é o lugar que eu mato meus demônios...

domingo, 5 de julho de 2009

o dia que pode começar mesmo antes de nascer traz a certeza de que nem sempre céu azul tem a ver com felicidade duradoura.

é inútil.

tantas coisas são

às vezes da uma vontade de virar fagulha

não por tristeza

mas sim por bestice de criança não crescida

me da um algodão doce de nuvens?

terça-feira, 30 de junho de 2009

uma carta desesperada.

oi, escrevo essa carta na correria. a coisa aqui tá feia. não, não são as contas atrasadas, nem o cigarro que acabou ou a cerveja que virou pedra ou a cabeça que me enloqueceu com suas dores.é coisa do coração. sim, é sofrimento. e o meu sofrimento não é opcional.
escrevo pra você, mas pensando bem, pode ser pra qualquer um que eu fiz o favor de me transformar em puta ou hipócrita. sim. da próxima qual será? morte não cairia mal, pelo andar da carruagem. foda-se.
eu nunca estive em lugar algum, andei pensando. nunca acreditei muito nessa coisa de viver futuro, balela.
mas também, pensando bem, nunca deixei de viver o passado e pensando mais ainda, não sei em que tempo vivo. se há um passado é porque ele foi presente. mas sei lá onde eu estava pra me perder desse jeito naquele presente que hoje é passado.
fato é que, me perdi. sim, sou perdida.
e não teve um se quer capaz de entender a porra da dificuldade que é ser eu. ok. foda-se, não precisam me entender. se nem eu entendo. quando era pequena ou até mesmo antes pensava que era uma pessoa fora de mim. hã? sim, algo do tipo, não pertenço ao meu corpo. depois sempre imaginei que não pertencia onde morava. e depois entendi que não pertenço a nenhum lugar a não ser o poço que eu me faço afundar e emergir, vez ou outra.
fica a lição. de puta ou hipócrita qual doeu mais?
não sei. os dois ainda doem.

domingo, 28 de junho de 2009

talvez

a chuva escorregou o dia
levou-o arrastado pelas ruas
calçadas
asfaltos
cimentos

não há escapatória
e então
entendi tudo

onde eu sempre erro
é onde me erraram: em mim

entendi que nunca me pertenci
apesar de a todo tempo existir algo pedindo
"por favor, agora. por favor, agora"
ser eu sempre me machucou demais

por isso
forma que escolhi
foi machucar os outros com um pouco de mim

dói, machuca, rasga

talvez a chuva seja choro


e talvez a solidão
seja só solidão

que, me permitindo ser eu,
solidão não tem "só"...
solidão é
e é um é doído demais

domingo, 21 de junho de 2009

meu jeito

tenho uma canção de amor
um poema guardado em segredo
uma dor pra seguir meus passos

tenho uma montanha
e pensamentos altos

não posso nadar
porém
minha canção de amor e meu poema secreto
preenchem meu dia
e faço do mato meu mar

parece triste
mas acredite
é grandioso e belo
e é do jeito que amo

quarta-feira, 17 de junho de 2009

bailarina

escorreguei pelo chão lentamente
como o passo trôpego
de uma bailarina gorda

me estendi na inutilidade do dia
perdi a poética da vida
nas tiras da sapatilha

as pontas dos dedos são inúteis
sem vida, rotas
dancei
até acabar, louca, no chão.

sexta-feira, 12 de junho de 2009

o frio

Repara
Veja como o tempo amanheceu cinza
Como concreto
As flores
O vento
Tudo parou
O frio aqueceu os desentimentos
Levou tristezas pras solidões
Não houve tempo de detê-lo
E ainda que houvessem casacos
E xales
E chocolates quentes
Nada disso seria suficiente
O frio não se combate com calor

é amor que falta ao frio.

quarta-feira, 10 de junho de 2009

besteira

Eu imaginava o mundo diferente
Acreditei em besteiras
Errei em detalhes
Fugi de mim

Percebi que tudo é mais do mesmo

terça-feira, 2 de junho de 2009

mato
morte
morro

morte
mata
aos montes

segunda-feira, 1 de junho de 2009

.

inocentemente afundei
acreditando na falsa realidade
me afundei
me joguei num poço de mentiras
fui fundo
cheio de lama
escorregadio
minha inspiração acabou
a inocência idiota que faz acreditar
em dias melhores
em fases mais adultas
em sentimentos mais recíprocos

era tudo uma dança acelerada
um passo pro fim
um tão logo que não acabava nunca

não menti
mentiram
enganaram

a mim o que sobrou?
catar migalhas?

não
agradeço

prefiro meu fim
ao meu esquecimento

sábado, 9 de maio de 2009

romulo nétto

o caminho foi quente pra porra. toda vez que fazia aquele caminho parecia estar no meio do sertão de sua infância. o suor escorria, ia molhando terrivelmente toda sua pele já começando a ser gasta pelo tempo, pelo cansaço que a própria vida oferece.
deu-se que se deram.
ele gentilmente abriu a porta de casa e ela a porta da mente. sei que desde aquele encontro nunca mais foi a mesma. a cada palavra falada por ele ela ia engolindo em ideias, em tristezas daquelas que devem ser escritas, em fantasias que sempre são expostas, em melancolias, em banzos, em flores, em fios, em sonhos...
ele falou tanto, contou da sua infância de ladrão de galinhas, da sua escrita, do seu sertão.
ela leu nele a vida dela mesma. a sua infância, as suas galinhas, a sua escrita, o seu cerrado.
cada detalhe era uma vida. cada exposição uma frase. cada fim de frase um poema feito.
um, dois, 24 ideias. todas ali, em livros.
que inveja, ela pensou. não das ideias. na verdade nem ela sabia se era inveja, aquela coisinha que corrói, ou simples admiração.
ele contou bastante. mas como se contam 63 anos em 3 horas?
foi embora satisfeita, ainda teve poema feito por ele.
quase que chora a menina que cotidianamente é chamada de manteiga derretida, hoje, é verdade, mais pra pedra ressentida, com aquilo que o poeta verdadeiramente pensou exatamente naquele momento e dedicou somente à ela...
não sei se se topam por aí.

mas se já se toparam pela vida, é isso que vale.
é o que dá em poesia...


saravá.

segunda-feira, 4 de maio de 2009

seguir

Enveredo pelo caminho das palavras
Por não ter melhor caminho pra seguir

Elas me doem, confesso
Mas foram elas que escolheram a mim
Não tenho como fugir

Desfaço
Se refazem

Me retorço
Elas se contraem

Pudera eu
Ter escolhido caminho mais fácil

Mas elas não me deixam
Procuro seguir

quinta-feira, 30 de abril de 2009

um poema?

a palavra chega de repente
vem e arregaça suas mangas pro poeta
ele, inerte, aceita

não tem como fugir
e mesmo se quisesse
elas voltariam
certeza que voltariam

a palavra vem como esquizofrenia na cabeça
atordoam, atordoam
batem, batem

até fazer de uma, várias
duma frase, um poema

quarta-feira, 22 de abril de 2009

um dó?

a grama verde denuncia o dia de chuva que passou
as árvores parecem dar pequenos sorrisos de satisfação
o piano de madeira gasta já não toca
mas sua escala está lá ...
pronta pra ser dedilhada
saudade é palavra corriqueira
mas a partitura, já velha pelo tempo
parece tão estranha...
tão apagada pela memória
um dó? um fá?
uma dó?
não saberia dizer
não saberia tentar
os dias tristes voltam
e as raízes daquelas árvores sorridentes
mostram um galho tão fraco...
tão eu

sábado, 11 de abril de 2009

fios e árvores

presa no meu tempo
palavras são fios soltos

não posso voltar
talvez nunca tenha ido

ainda existem fios presos
junto de árvores soltas

até quando?

quarta-feira, 8 de abril de 2009

quebrar os concretos resolve?

quando comecei o blog não tinha ideia (que até então tinha acento) do que ele iria virar. sabia que não queria nada jornalístico e factual. mas também sabia que nada impediria que de vez em quando ele fosse assim. acho que nos textos cheios de devaneios há muito de mim. bem como nas pequenas tentativas de poesia. às vezes são um lixo. nunca tirei nada daqui e também nunca fiquei fazendo do blog meu arquivo pessoal de pensamentos e aflições cotidianas como muitos fazem. e tem gente que tem mania de seguir blogs alheios para acompanhar como se fosse um reality show, pessoas, inclusive, que devem sair por aí criticando os realitys shows televisivos. hipócritas? sei lá. cegos, talvez. o fato é que os devaneios poéticos (ou não) também são uma forma de me mostrar, de ser lida e quem me conhece geralmente sabe pra quem é o texto. diferente do jornalismo, que é escrito pra um monte ler e ter a função social e todo o blá blá blá, aqui eu posso escrever direcionada. se alguns gostam e tomam para si, óquei. a questão é... por que eu comecei a escrever isso tudo aqui mesmo?

________________________

fim da chuva
gotas de natureza
ouvir um pingo é ter sensação de estar no mato

na cidade o concreto toma conta
aliás, pingo é ouvido porque cai no cimento
na terra seria leve e macio

chuva é melancolia
vontade de sentir terra

quebrar os concretos resolve?

domingo, 5 de abril de 2009

meu erro não é você

pensei em formas de escrever você
muito, inclusive
não consigo escrever desinteressadamente
assim, sem pensar em algo ou alguém
pessoas me chamam atenção para a sina da escrita
mas tenho dificuldades quando tento fazer você virar palavra
talvez seja pela grandiosidade de afeto
talvez pelo fato de não ter palavra que te signifique
amor é lixo perto do que você realmente é
te amo é tão ínfimo perto do que eu queria sempre dizer
mas o digo pelo fato de faltar palavras
de não saber significados que de repente dobrem, triplique, infinitem a palavra amor
e nós nos chegamos tão sem pensar
tão sem querer pensar
fomos sendo
nos tornamos
mudamos
eu com toda a agressividade que o mundo ainda pode conhecer
você com toda candura e timidez que só os que sofrem de vergonha podem saber
eu não sei
não sei o que é ser você
mas sei, e como sei, as transformações pelas quais você passou
eu as senti, as vivi, as estranhei
você renasceu algumas vezes e sei que estive presente em alguns desses partos
crescer dói
viver machuca
amar ensina
sofrer enobrece
e mesmo cantado e sendo sempre nossa trilha sonora dizer que meu erro foi crer que estar ao seu lado bastaria
é mentira
meu erro não é você
meu erro nunca será você
talvez errar seja quando não te compreendo
não tenho saco para entender que às vezes, simplesmente, não temos saco
ainda haverão de ter muitos renascimentos
dores
erros
espero estar em todos eles
e te apoiar, mas do meu jeito
grosso, estúpido, verdadeiro
amizade é pouco
amor é pouco
saudade é pouco
mas saber que você existe é muito
preenche
e traz felicidade

te amo
por falta de palavra melhor


*para monique

sexta-feira, 3 de abril de 2009

tilintar

espera noite cair
ouvir os sapos
o cheiro das flores

espero você
entrar pela noite

não tenho mais solidão
chegando tu
ela foi embora

espera aqui
vem comigo ouvir
o tilintar da vida

o mato canta
e sorriso abre por isso

sem você, seria assim?

sexta-feira, 27 de março de 2009

es es es

Escorregando
Escorrendo
Escafandro
Esquálido
Escândalo
Espírito
Espaço
Respiro
Tempo
Fim e começo
Silêncio no escuro
Grito
A coisificação do homem
A humanização dos objetos
Quem está fadado ao fim?
São os loucos os errados?
Ou certos estão os que prendem?
Estardalhaço
Escuro
Esperto
Espera

Es
cu
to

sábado, 14 de março de 2009

adormeço

tardei a olhar o tempo passar
os ponteiros são coisas engraçadas
um sempre com pressa passa os outros dois
os outros dois se quisessem romance pouco estariam juntos
solidão é isso
é estar no mesmo mundo, mas longe

os segundos fazem barulhinhos irritantes
a hora passa
o sono vem
mas lá está ele
1,2,3 tic tac

não consigo dormir
me sinto só
e mesmo que haja um ponteiro marcando a hora
sempre serei um minuto

não passo rápido
no entanto fico pouco
e sempre estarei só

nem que seja só por alguns milhares de segundos


adormeço

domingo, 1 de março de 2009

domingo pede caximbo?

fechei uma porta. abri outra. caminhei lentamente até embaixo. ele me aguardava.
domingo entre respingos de chuva e sol intermitente, entre touros valentes que "bate na gente". e a gente, como sempre, fraco que cai no buraco.
era domingo, como dizia a música. era uma manhã de domingo.
veio o abraço. a conversa. os olhares. duas jabuticabas e dois lindos ... ah! é indescritível. seria o azul do mar? o mar é azul? seria um verde? o mar às vezes não é verde? é possível tentar descrever o que não se deve? ou sempre se deve tentar descrever o que não se pode? não sei...
me perco nas palavras.
algumas vezes elas são as soluções de tristeza. às vezes o vazio preenchido por àquilo que pessoa nenhuma consegue ocupar.
fato é que ele ocupou. por menos de um dia. por menos do tempo que o que eu senti foi triplicado.
e ainda sinto. ainda está aqui.
seria estranho, se não fosse verdadeiro, que as promessas um dia feitas de que distância nenhuma mais existiria pra mim fossem facilmente deixadas de ser verdades...
não, não existe distância quando o coração aproxima. ou existe. mas pelo simples fato de ser física.
sim, eu prometi. não quero mais distância. e por isso não vou ser um dentro daquele " a gente" que é fraco e cai no buraco.

não. o mundo ainda não se acabou.


pra mim, o buraco vai ser sempre mais embaixo.

e ponto.

terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

bocasemisuja

Acontece que hoje não estou pra ninguém. Essa semana tive que matar uma perereca e ver a morte de um rato. Foi foda. Existe vida indo embora toda hora perto da gente. Fora as formigas que insisto em torturar de uma forma sádica. Nós nos damos ascos. E ainda me pergunto se o outro lá estava certo... porque sou grande, tenho que matar? Eu, com atos não racionais, que evoluo?
Além do mais tenho escutado coisas que não me pertencem e sendo menos eu. Foram 4 anos em 1 semana. JK e essa mania de redução. BAH, como diriam os lá de baixo. E sim, mais uma vez tentei colocar o piercing, mas o buraco parece ter fechado. Ah, tem outra, as discussões sobre Bukowski estão que não terminam... foda é nego achar que pode escrever igual uns ou outros que se destacaram pelo simples fato de serem perfeitos no que faziam. TÁ. Perfeitos?

Que se foda, hoje não tô pra ninguém.

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

bipolar

a noite foi boa. chuvosa e calma dá a sensação de conforto. a cama parece te abraçar. o dia acontece e tem uma carinha de que tudo vai ser bom.
a casa é grande, espaçosa, cheia de árvores, passarinhos. o encontro com amigos, risadas soltas. uma boa coca cola para alimentar o vício. música leve, suave. te adoros escritos, te amos sentidos, saudades latentes.

parece uma vida normal. boa. feliz.

amanheço com solidões.

a noite sempre trás a angustia do não visto. chuva deprime por lembrar de um tempo bom. a calma é sentimento desconhecido.
os vícios são tantos e outros e muitos e sempre...

palavras soltas.

vivo com solidões.

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

amigo

ele veio se instalando de mansinho. naquela multidão de futuros ricos, de domésticas frustradas, de enfermeiros que queriam ser médicos. ficava à minha esquerda, usava óculos, um detalhe nos dentes, sorrisos postos. nunca amarelos. até hoje me imagino por que olhei pra ele, por que naquela multidão nos achamos. eu, vinda de uma terra colorida, sotaque meio mudado, fui me prendendo, fui me apaixoaproximando. ele, tão solícito, tão calmo, tão engraçado, tão... ele.
e tudo foi acontecendo e se transformando.
e quantas conversas foram trocadas? milhares?
e quantas gargalhadas?
e quantas porrrrtas e carrrrnes e tudo mais que o R denuncia foram falados?
e quantas agonias?
e quantas frustrações?
e quantas pessoas foram passando?
e quantos você amou e eu odiei?
e quanto nos fomos querendo bem?
quantas visitas nas madrugadas?
quantas tentativas de truco?
e quanto e tudo e mais e sempre?

touro. câncer. ciúme. entrega. amizade.

de tudo que passa, pouco fica.

você ficou.

obrigada por existir, amigo.

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

Cavei buracos pra me enfiar. Solucionei os problemas fugindo. Achei as as chaves no bueiro. Ri da tristeza dos outros. Trouxe esperanças. Abracei uma criança chorando. Menti em tudo.

quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

ampulheta

o tempo insistiu em passar. sem nenhuma dó, sem nada que fosse de promissor. ele era apenas sufocante. um trem sem freios, uma casa se acabando, rachando aos poucos, caindo aos poucos, levando vida aos poucos.
não existe a história de que ele conforta, é auto engano, auto piedade, auto sufoco.
ele sempre foi e será sufocante, uma brasa. aquela coisa que não chega a queimar na hora, mas que também não apaga. e, sendo assim, brasa, ele mata. demora, mas mata. tosta aos pouquinhos, bem poucos, até o fim.
não importa se vida fosse vivida de trás pra frente ou frente pra trás. relógios não tendem a parar, mesmo faltando pilhas.

idiota como nos apegamos ao tempo.

e ele?


não se importa UM minuto com a gente.

sábado, 17 de janeiro de 2009

A chuva

O tempo passou e poucos ficaram.
Quem sabe lembranças, quem sabe passados.
Fato é que a janela ainda pingava as últimas gotinhas da chuva desesperada que caía há pouco. Chuva faz a gente pensar. Talvez por nos prender em casa, no ponto de ônibus, no teatro, na casa de alguém que a gente acabou de brigar. Chuva sempre é um pedaço de melancolia quando não costuma chover por onde vivemos.
Chuva lembra choro. E então pode ser tanto boa como ruim.
A agonia de uma noite em pequenas palavras. A garganta seca, apesar da umidade que ela deixa.

Ó...

escuta?

Lá vem chuva, lembranças e passados de novo...

quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

À você

Eu espero que todo esse tempo que você passou aí, longe, mesmo perto, solitário, mesmo com todos os pensamentos voltados para você, tenha feito perceber as coisas que já nos fez.
Espero também que entenda que muitas são as paixões, desejos da carne ou malícias humanas, mas que poucas são àquelas que sempre estenderão o braço, que acolherão, que entenderão as aflições que carregamos, que falarão que amam apenas demonstrando.
Eu tenho aguentado firme. Tenho fotografado muito. Lido muito. Mas às vezes, simplesmente, não dá.
Você faz falta.
Sua ausência é daquelas mais sentidas e dolorosas. Daquelas que mexem com qualquer um. Daquelas presenças que brilham.
Você é burro e egoísta. Sim, porque está fazendo muitos penarem. E são nessas horas que a raiva explode e eu penso "seria melhor sem você".
Mas logo admito pra mim mesma que pensar assim é apagar passados que valeram a pena. Passados que me fizeram crescer.
Eu espero que tenha aprendido. Espero que não repita o que fez.
Acredito que mais do que para nós, a lição grande foi para você.

Por favor, volte.

sábado, 3 de janeiro de 2009

ei ou ó

entre o sonho e o samba
meu peito amanhece de saudades
enche a alma de enfeites de luz
brilha

o rodar das saias
os sorrisos
o gingado
é possível haver tristeza?

ela tá ali, ó




("A roda da saia mulata /Não quer mais rodar não senhor")