terça-feira, 18 de março de 2008

meu pai é de peixes!

Filho de peixe, peixinho é?


Eu realmente não sei...


Ser meu pai não é fácil... mas é estranho porque eu sempre fui, meio sem querer, uma cópia escarrada e cuspida dele


Então, dessa forma, ser eu ( podemos supor) não é fácil...


Meu pai não teve mãe.


A mãe dele morreu de parto dele.


Meu pai não teve pai.


Na verdade ele teve, dois.


Um que nas conversas cotidianas ele chama de "pai" com tom carinhoso é o seu "dos Anjos", Manoel dos Anjos... o avô que eu conheci pelo alto, mas que morreu doido quando eu tinha 7 anos e era viciado em coca-cola...


E o outro, um vara pau, que, desculpe a memória, era o pai dele MESMO e eu não lembro o nome....


Eu sei que nessa família "de verdade" eu tive até bisavô! O meu azar foi não ter puxado a altura deles... talvez eu não tivesse tido os tantos traumas de adolescência que eu tive...


Mas, sem devaneios, eu tive quase a figura de uma avó nessa família biológica do meu pai... eu também não lembro o nome dela, só lembro que era ela cega...


E também lembro, isso é impossível esquecer, que segundo minha mãe é devido a essa família que meu pai foi o homem que, felizmente, eu não conheci...


Explico, a genética veio como um banho gelado em dia frio: certeira e dolorosa! Os vícios... o tal do cigarro que era très chic e meu pai começou aos 13 e a tal da maldita cachaça.... meu pai mesmo diz: "pinga é ardida, cerveja amarga... se é pra beber, que fiquemos bêbados, então!!!"


Mas, esse lado eu não conheci e essa determinação foda é o que eu tenho algumas vezes: "eu vou parar com a bebida, mesmo sendo alcoólatra" e ele parou... e faz mais de 25 anos que aquela frase foi certeira!


Com o cigarro, vício maldito, a decisão veio no dia internacional antitabaco "vou parar" e ele parou... teve um infarto e perdeu 30% do coração... após o infarto ele foi procurar um médico lá da Barra, o que ele disse? "o senhor teve uma virose" ... ahhh... PQP...


Aí ele foi em um médico de Cuiabá, ele passou uns remédios que meu pai passava mais mal do que bem...


Finalmente veio um goiano... e hoje ele tem uma caxinha de madeira carregada de remédios pra todos os gostos, horários e tamanhos...


Aí eu perguntei um dia, "Papai (é assim que chamo ele até hoje), foi bom parar? Dizem que o gosto da comida é melhor!"


"Que bom que nada, se eu soubesse que teria um infarto eu não teria parado..." em tom de brincadeira e irônico como sempre! Coisa que eu nunca me esqueço é dele dizendo que cigarro é "câncer em pílulas" ...


Irreverente, irritado, irônico, piadista de primeira e a melhor imitação de bêbado do mundo, um estilo meio cafajeste, filho único por parte de mãe e pai adotivo, cheio de irmãos pelo lado biológico da família, estressado, juiz de casamento, piloto, casado pela primeira vez aos 20, pai aos 40, autodidata na sanfona, dançarino de primeira, professor de português, fotógrafo, um cara arraigado nas suas tradições, o melhor pra pegar mangaba no cerrado, conhecedor de Mato Grosso como ele não tem, o homem que saiu com o intuito de colocar o nome da filha de Manuela e mudou, na hora, pra Isa...


Generoso... esse é o nome, esse é meu pai jornalista e, independentemente do sexo, o cara que eu quero seguir....

Um dia pode até ser que os caminhos, apesar das profissões serem iguais, já não sejam mais os mesmos...

Mas o que vale é o que a gente sente, o que a gente vive...

E esse é O cara!

(E tenho certeza que tem muitos assim soltos pelo mundo)

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