quarta-feira, 1 de fevereiro de 2017

tijolo por tijolo

li, ainda hoje, que "amor é reconstrução"

não posso deixar de concordar.

acho que é sempre mais fácil começar do início.
o sonho
a ideia
o papel
a forma
a base
a laje
a decoração
a chegada naquela casa tão nossa
com cheiro tão novo
com os quadros pendurados na sala milimetricamente medidos
e, depois,
banido da sala porque o olho da Monalisa dá medo e eu não consigo dormir a noite

e aí se rearranja
pega o quadro
coloca no outro quarto
tira daquele lugar aquela foto ali
coloca ela, então, no olhar que antes pertencia à Monalisa

aí vem a briga
aí vem o gozo
aí vem a janta
e em seguida a louça pra lavar

e vem rotina
vem conta
vem muito talão e pouco salário

e vem o choro do nada
claro,
sempre o choro
e sempre
supostamente
do
nada

e vem
e vai

e sai da casa
e leva o quadro da Monalisa
e muda
e muda de novo
e enfia o quadro em cima da estante
e pega livro por livro
e pega choro por choro
e pega vida por vida
e pega medo por medo
e pega força por força

e quebra copo
compra louça
desfaz as caixas
refaz a vida

mas, e o amor?

reconstrói o amor

pega aquela receita de juntar os cacos dos copos, as lágrimas e o olhar da Monalisa.
pega também aquele livro que eu andei lendo e chorei de soluçar
pega sua louça
a toalha de margaridas
as luzes
as dores
os sonhos
as ideias
os papéis
as formas
a base
a laje
a decoração
junta tudo de nós e mistura pra nosso
transforma isso
em uma massa
composta de fé
esperança
espera
e
saudade.

feito isso, beba a reconstrução do amor.

mas beba todo dia
de pouquinho
bem pouquinho
levinho
pra lembrar que amor é isso
às vezes cai
nas outras cola
mas,
sempre
reconstrói.

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