naveguei nas águas frias e profundas do Pacífico
chorei na casa de Neruda
enchi meus pés de areia
e nem o barulho das conchas batendo contras as pedras
diminuíram minha dor naquele momento
estava sangrando
a ferida estava completamente aberta
respirei, muitas vezes, profundamente
naquele dia frio, com sol a pino, de uma manhã chilena
queria desaparecer
a cada passo, queria apenas desaparecer
tentava entender as loucuras do poeta e as minhas
quantas coleções
quantas confusões
quantos amores
Neruda amou enlouquecidamente
e foi ali que escreveu "Confesso que vivi"
não entendi na ocasião todo aquele emaranhado de bugigangas
sim, eram bugigangas
afinal, para que servem aquelas coisas, se não para acumular poeira e saudades?
fui sangrando pelo caminho
continuei sangrando com o passar dos dias
longos e terríveis dias
até que
o vento fez a porta de vidro se arrebentar:
estava viva
estou viva
quero estar viva
olhei pra trás e o poeta estava complacente
ao lado da mão da amada, olhando o mar
estava pleno
estava plena
entendi, então, que é preciso sangrar
ferir
acumular poeira nos cantos
ter saudades
para, então,
jogar fora as bugigangas
fechei a porta, já arrebentada,
e segui.
não precisei olhar para trás
estava tudo na minha frente:
poesia, mar, céu, areia, vida.
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