quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

Ana

olhou praquela confusão, pros copos vazios, pras canecas sujas, pras letras escritas nas paredes, escorridas nas janelas, deitadas na cama. olhou os livros não lidos, os outros deixados pela metade, a maioria esperançosos só de ouvir "logo eu volto a ler você". mas não. a vida dela era muito maior que um quarto desorganizado, desarrumado, desestruturado. era só o retrato da vida.
Ana chegou a pensar que, se passasse desinfetante no chão e detergente nos copos e nas mãos, tudo estaria limpo. era uma forma de começar. aliviava. mas depois vinha pungente, latente, rompendo manhãs: vi-ver. não era fácil. e daí vinha o choro, misturado com o soluço, com a magnitude daquilo tudo que estava por vir. doía. não saber do futuro, não reler o passado, não viver o presente.
às vezes ia no bosque. a natureza era complexa e, no entanto, sofria calada. ou sorria calada. dava na mesma, algumas vezes.
e ela chegava e admirava aquela sombra toda, quase sentia frio. e se a sombra quisesse ser sol? chegava a ser frustrante pensar tanto.
voltou pra casa e, mais uma vez, preparou um chocolate quente. mais um pra sua coleção. pegou no sono. era reconfortante a bagunça em que se metia.

Um comentário:

Anônimo disse...

Isa, pena que você sumiu. Continuo nas lidas literárias. Tenho curtido seu trabalho. Continuo com o meu. Como deve saber publiquei sete livros em 2010, um em 2011. Em 2011 escrevi 5 (O Menino e a peroba-rosa; A Menina sem tranças; Torturados - tempos de bullying; Os Sete meninos do sertão e os escravos da pedofilia). Em 2012 escrevi Buritis e agora estou fazendo a continuação. Apareça. Venha bater um papo, mostrar as novidades literárias, tomar um cafezinho.
Romulo