eu já tentei me matar quando era criança. não sabia como, mas tentei.
você já parou para pensar nisso? ali, fazendo o que pensava ser chegar ao fim, aos 10 anos de idade, apaguei as luzes do quarto, deitei embaixo da cama e esperei a morte chegar com o que tinha tomado. obviamente, ela não chegou. e antes mesmo que ela tentasse me matar, a morte foi interrompida com um grito de "vem comer".
de lá pra cá, o mundo foi só um tropeço após o outro, sempre com uma vontade interminável de deitar embaixo da cama, no escuro, esperando a morte chegar.
não fui preparada pra ela, ninguém foi. e ainda que digam (e eu vivenciei isso) que no México, por exemplo, a morte é uma festa, porque a vida é uma passagem, duvido que não doa pelo menos um pingo.
conheci gente que não se importou.
conheci gente que se importou até demais.
conheci gente que quis ir junto, esquecendo que ainda estava viva.
mas não me conheço.
quando vejo o filme As Horas, meu preferido por cada detalhe daquelas três personagens que são simplesmente tão reais e se parecem sempre comigo sempre em algum ponto, eu choro. Laura Brown é isso: alguém que viveu uma vida de mentira, tentou se matar e foi a única que sobreviveu. enterrou marido, que tinha ido pra guerra, e enterrou o filho suicida e desesperado por entender uma mulher tão fechada em si como a mãe.
não, longe de mim ser Laura. não vivo de mentiras, minha vida é real e como diz o Saramago, a mim me deram um coração de verdade, que sangra. é que quando é tudo tão bom, quase perfeito, feliz e sem falsas emoções parece não ser real. sempre algo dizendo "ei, essa não sou eu". mas quem sou?
me desconheço.
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