quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

sapatinhos brancos


Eu vejo sapatos soltos saindo rotos dos pés das madames por aí
Vejo o que não devia
E sobretudo o que não queria

Eram quatro pernas
Quatro sapatinhos brancos
Duas saias jeans
Duas cabeças
Um tamborim?

Andavam apressados
Afobados
Arrasados?
Andavam... aqueles sapatos

Soletravam no passo da ignorância
A paciência de ter que trabalhar
Pra comer
Pra botar na boca do filho
Da filha
Dos filhos
Das tias... comida

Elas andavam, juro
Apressadinhas com seus sapatinhos brancos a caminho do hospital
Elas andavam
Tropeçando nos sonhos
Caindo em pesadelos de amanhã-ter-que-trabalhar
Pra botar na boca do filho
Da filha
Dos filhos
Das tias... comida

Elas caiam, juro
Na ladeira da vida
Cuspindo frases felizes
Desfeitas em cuidados matinais-maternais de mães que cuidam
Que amam
Que sofrem
Que choram

Elas saiam, juro
Da vida daquelas pessoas pelas noites-nauseantes mundo a fora sem sorrir
Elas corriam
Andavam
E corriam
E choravam

Vai ter fim?, uma pergunta
Não vai não.
E amanhã?
Sapato branco, até ficarem pretos.



quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

se?

O mundo é feito de grandes “se”, desfeito em “nunca mais”, em “talvez eu apareço um dia”, em solidões, em fins tão estranhos, em recomeços tão promíscuos, em fins de tarde tão amenos, em caladas da noite tão infelizes, em sorvetes tão amargos, em cervejas tão doces....

E se talvez não tivesse existido se?

Mas existiu

E você não existe mais....

quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

amor


Pelas fendas, frestas, formas, fontes
Pelas ruas, rasgos, ratos, ramos
escondidos
Pelos escuros
encontrados
Pelas auroras

Pungente
Sofrido
Safado
Amargo

Pela força da ausência
Sua essência
Pelo ódio dos presentes
Sua força
Pelo simples existir...

amor.

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

não.

por um lapso de tempo perdi você
Não, não é você que tem nome
que anda
E dorme quando a cidade acorda

pelo contrário

Não sei teu nome
e ando me perdendo dos meus faz tempo
é como se tivesse acordado e lembrado que não existo

e talvez não exista mesmo


ontem vi aquelas coisas que lembravam aqueles dois que
definitivamente
não sou eu

“é o seu cabelo?”
“certeza, querida, é sua roupa”
“você pintou e cortou?”
“fez plástica?”
“emagreceu?”
“o que você tem de diferente?”


não sei, talvez o jeito de andar?

ou
quem sabe
a falta de sentimentos

cansar de tocar o intocável deu nisso...


virei uma coisa indefinida sem rosto
daí que ficar sem sentimentos
foi só um passo lateral a mais

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

tenho tantos altos e baixos que não deveria ceder aos meus caprichos desmiolados de louca desvairada.

porém sigo.

e como me doem.

terça-feira, 12 de janeiro de 2010

não tenho mais suas mãos
e me dói a alma
a beleza delas me espantava

não tenho mais a saudade matada em minutos
adormecida pelo seu cheiro bom
e isso me dói

não me sobra o abraço forte
as ligações "apenas para escutar sua voz"
e isso me mata a cada segundo

a solidão
tal qual uma morte dentro da vida
não me conforta
como antes de você

li em garcia marquez que
"nada en este mundo es más dificil que el amor"
e queria ir correndo te mostrar

queria que me ouvisse em espanhol
mais do que nunca
e queria chorar desesperadamente sem motivo nenhum

mas não consigo
não posso
não dá

o meu choro é desesperado
é triste
é mais que um pedaço da morte na vida

é a morte
é esperar um filho que não vem
porque nunca existiu

a cabeça é um caderno branco
a fotografia um saco de lixo
não tenho ânimo
nem coragem
e me falta voz,
força

sem você afundei
e voltei a pintar meus dias de preto.

sábado, 9 de janeiro de 2010

ontem tentei
o sono veio
mas depois me peguei acordada vendo a morte - em um filme

quantas horas? quantos sonhos? quantos milhões de pesadelos?

pra acabar
é preciso se reerguer

mas sem força
prefiro que eu mesma me acabe

e ponto.

sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

hoje é um belo dia para se matar.

me mato
me mato

mato
mato